quinta-feira, 29 de julho de 2010

Uma história do outro mundo



Num desafio que me é feito pelo Pedro Castro, da Associação Nova Cultura de Montargil, no sentido de escrever qualquer coisa para o Boletim Cultural daquela Associação, sempre respondi com textos baseados em factos reais, ainda que por vezes acrescente um ou outro ponto, da mesma forma que posso omitir factos que considere menos abonatórios para a história que se pretenda contar.
Desta vez optei por contar uma história que só aconteceu na minha imaginação.
O Pedro ainda não conhece a história, e embora tivesse sido escrita para ele, vou oferece-la em primeira mão, aos leitores deste Blog.


O “Bolinha de Sebo” devia o seu nome ao facto de ser um pouco gordo e anafado. Apesar da sua força física, nunca se importou com isso, nunca ameaçava um companheiro, e até gostava de proteger os mais fracos. Mas tinha a mania que não tinha medo de nada, e o seu passatempo favorito era contar histórias medonhas de monstros e almas do outro mundo.

Facilmente reunia à sua volta uma enorme plateia de rapazes e raparigas, que apesar dos medos que lhes despertavam as histórias do Bolinha, não resistiam à atracção pelo fantástico.
O “Bolinha de Sebo” sentia-se o centro das atenções. E era. Não só tinha um jeito fantástico para fazer as suas histórias parecerem reais, como se gabava de ter tido encontros com fantasmas e “aparecidos”, enfrentando-os sem medo, e garantindo que tinha até chegado à fala com alguns deles.

Ora sendo eu o melhor aluno da Escola, e o que mais êxito tinha junto das miúdas, aquela áurea brilhante do Bolinha, começava a chatear-me.
Tomei uma decisão: Eu ia desmascarar aquele herói exotérico de meia-tigela.

O plano era simples: Eu sabia que o “Bolinha de Sebo” passava as tardes em casa da avó, na Charruada, e só regressava a casa pela noitinha, que era quando os pais votavam do trabalho do campo. A passagem pelo vale da Terra Preta, era o ideal para o plano que traçara. Foi aí que esperei por ele. Era quase escuro quando ele apareceu.

A uma distancia segura, em cima dos combros dos canteiros do arroz, e embrulhado num enorme lençol, fiz a minha aparição fantasmagórica. Esticando os braços em frente, tipo sonâmbulo e fazendo uma voz que vinha do outro mundo, chamei-o:
--Vêm…vêm… Vêêêêmmmmm…
Resultou em cheio. O Bolinha de Sebo iniciou uma fuga desordenada, com o medo bem estampado no rosto.

Tudo teria terminado bem se eu o deixasse fugir, mas empolgado com o êxito, resolvi persegui-lo. Foi aí que deixei cair o lençol. O Bolinha reconheceu-me, e aquela batalha mudou de rumo.
Era a minha vez de dar de “frosques”. Depois da humilhação que fora o “cagaço” que apanhara, o “Bolinha de Sebo” não ia perdoar-me. Felizmente para mim, eu era muito mais rápido que ele, mas na minha fuga não evitei espalhar-me ao comprido, num canteiro de arroz cheio de água e lama.
A minha triste figura pareceu acalmar o Bolinha, que soltou uma enorme gargalhada e abandonou a perseguição.

Eu provei o que queria, mas o que poderia ser uma enorme vitória, acabou em fracasso, por ter esticado a corda mais do que devia.

3 comentários:

  1. Pois é! O mal de muitos de nós é não sabermos o momento de desistir. Muitas vezes acaba por acontecer a tal história do feitiço e do feitiçeiro.
    Boa estória.

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  2. ISTO É UM BLOG DA TRETA.

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  3. Anónimo disse...

    ISTO É UM BLOG DA TRETA.
    31 de Julho de 2010 15:05

    Talvez meu caro, talvez.
    Mas é o meu blog, e ninguém o chamou aqui, por isso só tem uma coisa a fazer: RUA.

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