sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Zeca Afonso - O Que Faz Falta!!!

"DESACORDORTOGRÁFICO"


"Alguém por favor explique como se vai ensinar uma criança a escrever com a ortografia unificada do português (é assim que o Acordo Ortográfico lhe chama). Alguém por favor explique como uma criança que já saiba escrever e que seja apanhada entre ortografias vai conseguir lidar com a insanidade acordortográfica a meio do seu percurso escolar. Alguém por favor explique como se vai transmitir as noções cruciais de correcção e erro a um aprendente jovem da escrita.

Explico o meu problema. Quero perceber a razão de coisas deste tipo, quero saber como se explicam estas inexplicabilidades:

COR-DE-ROSA escreve-se com hífen, por causa da consagração pelo uso, diz o AO, mas COR DE LARANJA escreve-se sem hífen, porque não.

Que tem o uso a ver com ortografia? Se algumas pessoas passarem a conduzir sistematicamente pela esquerda ou a passar sinais vermelhos, algum decisor pensará em consagrar e permitir tais práticas como uso, em vez de manter a sua proibição como violações que são de um código em vigor?

Quantas vezes será preciso escrever mal até que os erros passem a ser “formas consagradas pelo uso”?

Como explicar a um miúdo de 12 anos que o seu uso na escrita quotidiana de sms ou de mensagens no MSN (ou similar) não consagra nada, apesar de o AO aceitar a supressão de H inicial quando consagrada pelo uso? Pelo uso de quem e onde?

Como se explica a acentuação em coisas como as que se seguem?


PÁRA (verbo) deixa OBRIGATORIAMENTE de ter acento e escrever-se-á PARA, não se distinguindo da preposição PARA.

Mas PÔR (verbo) mantém OBRIGATORIAMENTE acento para se distinguir da preposição POR.
PODE (pretérito perfeito) tem FACULTATIVAMENTE acento (PÔDE) para se distinguir de PODE (presente do indicativo).

FORMA (substantivo) tem FACULTATIVAMENTE acento (FÔRMA) para se distinguir de FORMA (verbo e substantivo).

Mas ACORDO, ACERTO, CERCA, etc. (substantivos)OBRIGATORIAMENTE não têm acento e não se distinguem deACORDO, ACERTO, CERCA, etc. (verbos).

DEMOS (presente do conjuntivo) tem FACULTATIVAMENTE acento (DÊMOS) para se distinguir de DEMOS (pretérito perfeito).

Mas PODEMOS (presente do indicativo) OBRIGATORIAMENTE não tem acento e não se distingue da forma PUDEMOS (pretérito perfeito).


E as formas com acentuação facultativa que o AO contempla AVERÍGUO, AVERÍGUAS, AVERÍGUA, ENXÁGUO, ENXÁGUAS, ENXÁGUA, DELÍNQUO, DELÍNQUES, DELÍNQUE, etc. dos verbos AVERIGUAR, ENXAGUAR, DELINQUIR? De que língua são? O que as distingue de certas formas incorrectas, muito correntes em Portugal, como FÁÇAMOS, PÓSSAMOS, TÊNHAMOS e SUPÔNHAMOS? E por que é que estas últimas não são então formas consagradas pelo uso?
Qual é a regra?

O que impedirá a mente criativa de crianças em idade escolar de gerar abdutivamente formas gráficas que nem a nova ortografia xenófila contempla? Os que as impede de FACULTATIVAMENTE introduzirem acentos circunflexos em palavras com Ê e Ô tónicos, se a nova ortografia unificada se baseia no princípio fonético, na consagração pelo uso e na facultatividade?

Como perceber o que é facultativo e o que é obrigatório? Como entender o que se mantém para distinguir e o que se não mantém apesar de distinguir? Como é que confusões destas contribuem para simplificar a ortografia portuguesa, outro princípio peregrino do acordismo?

RACIONAMOS (pretérito perfeito) tem FACULTATIVAMENTE acento para se distinguir de RACIONAMOS (presente do indicativo). A vogal pré-tónica escrita A (o primeiro A) é fechada (na realidade, média).

FRACIONAMOS (pretérito) tem FACULTATIVAMENTE acento para se distinguir de FRACIONAMOS (presente). Tem também FACULTATIVAMENTE um C mudo — FRACCIONÁMOS ou FRACCIONAMOS (quatro formas correctas no total). Porquê? Porque no Brasil a consoante é pronunciada. Como no Brasil se escreve com C nós podemos escrever com C. E a vogal pré-tónica escrita A é aberta.

ACIONAMOS (pretérito) tem FACULTATIVAMENTE acento para se distinguir de ACIONAMOS (presente). OBRIGATORIAMENTE não tem um C mudo — ACCIONÁMOS ou ACCIONAMOS são erros ortográficos. Porquê? Porque no Brasil a consoante não é pronunciada: como no Brasil se escreve sem C em Portugal não se pode continuar a escrever com C. E a vogal pré-tónica escrita A também é aberta.
Se é possível escrever DECEÇÃO e RECEÇÃO com um P mudo FACULTATIVAMENTE — porquê? porque no Brasil se escreve com P — o que impedirá jovens estudantes de criarem formas analógicas como CORREPÇÃO ou INTERSEPÇÃO com P mudo, já que as formas actuais CORRECÇÃO e INTERSECÇÃO perdem OBRIGATORIAMENTE o C mudo e passam a ser erros ortográficos?


Repare-se que DECEÇÃO passa a ter um P mudo facultativo, não porque a letra E se pronuncie com vogal aberta (isso não tem importância nenhuma para os autores do Acordo, como eles próprios dizem — está escrito na Nota Explicativa do AO), mas porque no Brasil se escreve com P.

Ou seja, o meu P mudo, que até agora era euro-afro-asiático-oceânico e servia para indicar o timbre da vogal precedente, passará a ser brasileiro, e é por ser brasileiro e por não ser mudo na norma culta brasileira que eu vou poder continuar a escrevê-lo muda e ortograficamente em Portugal.

Alguém consegue explicar isto a miúdos de 10-12 anos apanhados entre ortografias?

Para sabermos escrever bem em Portugal teremos de saber como se escreve bem no Brasil. Isto fará algum sentido para uma criança ou jovem em idade escolar ou para algum professor?

Alguém explique por favor como será um manual escolar unificado.

Haverá listas de formas com consoantes mudas facultativas e listas de formas com consoantes mudas proibidas?
Com hífenes consagrados pelo uso e hífenes proibidos?
Com acentos facultativos, obrigatórios e proibidos?

Terá de haver, forçosamente, pois não há discernivelmente regras que iluminem o uso da nova ortografia. Os professores, enquanto não conseguirem decorar essas listas, terão de andar sempre com elas debaixo do braço nas aulas e na correpção dos testes dos alunos.

Uma alternativa é o sábio conselho dos U2 de há quinze anos, nos tempos do Zooropa Tour: “WATCH MORE TV”. Ou seja, veja mais telenovelas brasileiras e aprenda português.

Os professores poderão FACULTATIVAMENTE ensinar as grafias que preferem? Cada professor e cada aluno escolherá a formacorrepta que mais lhe agradar? Ou será por ano, ou por escola, ou por distrito?

E quando um professor fundamentalista que escreve Ps mudos (autorizados pela norma culta brasileira, bem entendido) faltar e for substituído por um professor fonético que não escreve Ps mudos? Muda a ortografia nesse dia na sala de aula?

E os encarregados de educação como farão para esclarecer os menores a seu cargo e os acompanhar nos seus estudos de português?
Aprender a escrever e a ler (que já agora, são coisas que o cérebro aprende separadamente) é uma tarefa portentosa e difícil, que requere a aquisição de hábitos, rotinas, regras, disciplina, repetição. Reiteração contínua de padrões, comportamentos e usos. Como se aprende sem estabilidade no processo de aprendizagem?

Quantas revisões da ortografia unificada se avizinham nos próximos anos para maximizar o princípio fonético, acompanhar o uso e unificar mais a acordortografia unificada?

Como foi possível chegar-se a este ponto em que se tem que explicar o obviamente inexplicável, e em que o obviamente inargumentável tem que ser argumentado ?

Que processo de involução cultural se abateu sobre nós que nos trouxe a esta conjuntura bizarra, em que o absurdo evidente do AO é que tem que ser explicado e demonstrado (como se não fosse evidente) e a sua não aplicação é que tem que ser justificada (como se ninguém percebesse o desastre que é)?

O colunista brasileiro Hélio Schwartsman escreveu sobre o AO, “quanto mais penso, mais fico revoltado. Toda a situação pode ser resumida como um conluio entre acadêmicos espertos e parlamentares obtusos.”

Não me satisfaz completamente, não explica tudo, mas faz algum sentido. É, pelo menos, um fragmento de explicação."

António Emiliano | Linguista e filólogo | Universidade Nova de Lisboa
publicado in Jornal de Notícias | 13/7/2008

(Retirado Daqui)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

VINTE MIL

Bastante faltam me fazem, não de forma virtual, mas real. Mas não. Não é de euros que estou a falar, mas sim dos amigos que por aqui vão passado.
Um obrigado enorme.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

ARQUILED ILUMINA MUSEU DO BENFICA

A empresa de Mora criou um produto personalizado para o Museu do Benfica.

Chama-se Arquieagle e é o produto que a Arquiled produziu especialmente para o Benfica, clube com o qual já estabeleceu uma parceria comercial que visa, entre outros, a iluminação do futuro Museu do Clube. Com poupanças na ordem dos 60% nos gastos de energia, o progecto da Empresa sediada em Mora já está visível na exposição dedicada aos 50 anos de Eusébio.
Trata-se de um sistema inovador de iluminação arquitectural, que utiliza a tecnologia LED (Light Emitting Diode) como fonte de luz. Paralelamente, a Empresa produz toda a electrónica de controlo, para que a qualidade projectada seja assegurada.


(In A Bola)

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

MORREU GARY MOORE


O guitarrista Gary Moore foi encontrado morto esta madrugada, num hotel de Estepona, Espanha.
De acordo com as autoridades Espanholas, o corpo do músico não apresenta sinais de violência.
Autor de êxitos como "Wild Frontier" ou "Stil gotThe Blues", Gary Moore, de 58 anos fez no passado ano, digressões pela Russia e Médio Oriente, e tinna em preparação vários concertos.

Tanto Mar - Versão Original

Cálice

sábado, 5 de fevereiro de 2011

DAVID LUÍZ


Os verdadeiros Benfiquistas, ainda que num recanto solitário, por certo não evitaram uma lágrima de tristeza pela saída de David Luíz.
E não será por acaso, mas porque o David conseguiu, nestes tempos futebolísticos de poucos valores e menos princípios, encarnar a tal mística que sempre foi apanágio do Glorioso Benfiquismo.
O David partiu, mas levou consigo o Benfiquismo que todos partilhamos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UMA AVENTURA NO CEMITÉRIO


O título da crónica, até pode parecer um pouco mórbido. Na verdade, não tem nada disso.

Sabemos que o culto dos mortos é algo que desde os primórdios da humanidade, faz parte da cultura de todos os Povos. Apesar disso continuamos a olhar para os cemitérios como um local que desperta estranhos receios e mistérios insondáveis.

É certo que se contam muitas anedotas sobre cemitérios, mas sempre quando estamos longe deles.

Nos finais dos anos 60, trabalhando na Casa Travassos, em Montargil, foi-me incumbida a tarefa de lixar e pintar a armação metálica que protegia uma Campa Rasa de um familiar da Casa. A Campa situava-se, e situa-se ainda certamente, à entrada do Cemitério, por trás dos Jazigos á direita.

Foi um trabalho que me levou vários dias. Pois num desses dias, começou a chover com alguma intensidade, o que me levou a procurar abrigo.

Estando um daqueles enormes Jazigos aberto, não hesitei em recolher-me nele. Recordo-me que havia três ou quatro urnas dispostas nas prateleiras laterais, e como pedido de desculpa pela minha invasão, rezei uma oração por aquelas pessoas que ali descansavam o sono eterno, e senti-me mais tranquilo.

A chuva teimava em não parar, e eu continuei ali, mas cada vez me sentia menos tranquilo, pelo que rezei novamente.

De repente ouvi um pequeno ruído de passos, e vi passar apressadamente um moço conhecido, e chamei-o: “Joaquim! Entra prá qui!”. O Joaquim estava quatro ou cinco metros mais à frente, mas nem sequer olhou para trás. Ele sabia de onde vinha a voz que o chamava, e desatou a fugir esbaforido em direcção à porta de saída, por onde saiu a grande velocidade, quase atropelando uma Senhora que ia a entrar.

Não lhe vi o rosto, mas o medo devia ser tanto e tão visível na sua cara, que a Senhora que ia a entrar, parou no meio do Portão, olhou desconfiada para o interior do Cemitério, hesitou alguns momentos e deu meia volta, voltando para trás.

Ao tentar ajudar, eu pregara um susto de morte ao Joaquim, que acabou por ser extensivo à Senhora que ia entrar.

A chuva acabou por passar e eu voltei à minha tarefa.

Pouco depois, a Senhora da entrada acabou por voltar, mas agora acompanhada por outra Senhora. Ao passarem perto de mim, ouvi claramente parte da sua conversa: “Não sei o que ele viu, mas que viu alguma coisa, viu. Havias de ver a cara dele…”

A convicção da Senhora era tal, que eu próprio comecei a ficar algo temeroso, apesar de naquele caso, o fantasma ser eu.