terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UMA AVENTURA NO CEMITÉRIO


O título da crónica, até pode parecer um pouco mórbido. Na verdade, não tem nada disso.

Sabemos que o culto dos mortos é algo que desde os primórdios da humanidade, faz parte da cultura de todos os Povos. Apesar disso continuamos a olhar para os cemitérios como um local que desperta estranhos receios e mistérios insondáveis.

É certo que se contam muitas anedotas sobre cemitérios, mas sempre quando estamos longe deles.

Nos finais dos anos 60, trabalhando na Casa Travassos, em Montargil, foi-me incumbida a tarefa de lixar e pintar a armação metálica que protegia uma Campa Rasa de um familiar da Casa. A Campa situava-se, e situa-se ainda certamente, à entrada do Cemitério, por trás dos Jazigos á direita.

Foi um trabalho que me levou vários dias. Pois num desses dias, começou a chover com alguma intensidade, o que me levou a procurar abrigo.

Estando um daqueles enormes Jazigos aberto, não hesitei em recolher-me nele. Recordo-me que havia três ou quatro urnas dispostas nas prateleiras laterais, e como pedido de desculpa pela minha invasão, rezei uma oração por aquelas pessoas que ali descansavam o sono eterno, e senti-me mais tranquilo.

A chuva teimava em não parar, e eu continuei ali, mas cada vez me sentia menos tranquilo, pelo que rezei novamente.

De repente ouvi um pequeno ruído de passos, e vi passar apressadamente um moço conhecido, e chamei-o: “Joaquim! Entra prá qui!”. O Joaquim estava quatro ou cinco metros mais à frente, mas nem sequer olhou para trás. Ele sabia de onde vinha a voz que o chamava, e desatou a fugir esbaforido em direcção à porta de saída, por onde saiu a grande velocidade, quase atropelando uma Senhora que ia a entrar.

Não lhe vi o rosto, mas o medo devia ser tanto e tão visível na sua cara, que a Senhora que ia a entrar, parou no meio do Portão, olhou desconfiada para o interior do Cemitério, hesitou alguns momentos e deu meia volta, voltando para trás.

Ao tentar ajudar, eu pregara um susto de morte ao Joaquim, que acabou por ser extensivo à Senhora que ia entrar.

A chuva acabou por passar e eu voltei à minha tarefa.

Pouco depois, a Senhora da entrada acabou por voltar, mas agora acompanhada por outra Senhora. Ao passarem perto de mim, ouvi claramente parte da sua conversa: “Não sei o que ele viu, mas que viu alguma coisa, viu. Havias de ver a cara dele…”

A convicção da Senhora era tal, que eu próprio comecei a ficar algo temeroso, apesar de naquele caso, o fantasma ser eu.

3 comentários:

  1. Neste caso o além estava demasiado perto...

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  2. Já conhecia a história. Só que em Mora os protagonistas foram o Dr. Possidónio (o assustado) e o Sr.Álvaro Batista (o que assustou). Algumas vezes ouvi o Dr. Lopes Correia contar o episódio. Infelizmente já todos "partiram".

    Ass. Batistuta

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  3. Amigo Batistuta, há de facto grandes coincidências.
    Só que no meu caso, eu tinha 14 anos, e o Joaquim, sensivelmente a mesma idade. Acho que um adulto não se assusta tão facilmente, mas os Cemitérios são complicados...

    Abraço.

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