quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

SARAMAGO e eu


“ Porém, cada dia traz com sua pena sua esperança, ou será isto fraqueza do narrador, que de certo leu tais palavras ou as ouviu dizer e gostou delas, porque vindo com a pena a esperança, nem a pena se acaba nem a esperança é mais do que isso...”

José Saramago, in Levantados do Chão

Saramago não é o discurso mais fácil para mim. Não sou pessoa de fazer que percebo bem o que me deixa dúvidas, só porque ler Saramago dá assim uma espécie de aureola intelectual. Fazer de conta não é a minha praia. Mas como diz o povo, no melhor pano cai a nódoa, aqui visto ao contrario, tipo de repente fez-se luz. Este excerto de Saramago não me abriu novos horizontes mas trouxe-me algum alivio; Afinal, e salvo as devidas distâncias, não sou só eu que tenho momentos de fraqueza em relação à perda de esperança e falta de crer no futuro deste povo, mesmo levando em conta as distancias temporais. Também fiquei a saber que é aceitável (mesmo que seja uma fraqueza) que se use no que escrevemos, ideias, conceitos e palavras que lemos ou ouvimos a outros, e cuja identidade a nossa memória perdeu ou nunca conheceu.

Há ideias inspiradoras que se tornam património de todos, e que completam as nossas próprias ideias. Mas não podendo identificar os seus autores, como podemos usa-las sem parecer que estamos a fazer um uso indevido delas?. Devemos dizer que não são da nossa lavra, mesmo que o contexto onde estão inseridas seja nosso?

sábado, 9 de janeiro de 2016

MARCELO À RASCA


Afinal as “favas contadas” começam a levantar dúvidas. Confrontado com as várias fragilidades que os seus opositores lhe vão apresentado, Marcelo descobre que o contraditório é uma grande chatice. Bom mesmo eram as suas “conversas em família” onde ele” fazia a festa, atirava os foguetes e apanhava as canas”, sem que ninguém o contrariasse. O seu nervosismo é evidente e a sua pose estudada e ensaiada durante anos, já não tem a mesma “naturalidade”.
A mascara começa a escorregar, e sem a protecção de um sistema bem urdido e atuante, já tinha caído. Não será fácil, mas acredito que bem abanado, o palácio dos privilegias acabará mesmo por ruir.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O VELHO DO QUADRO.


O VELHO DO QUADRO

Aquela galeria estava cheia de quadros; Castelos, pontes, barcos, bailarinas e até mulheres remi-nuas, entre outros de formas estranhas que eu não entendo. Mas um deles, meio escondido a um canto, representava um velho com evidentes sinais de sofrimento estampados no rosto. Reparei que ninguém reparava no quadro do velho sofrido. As pessoas comentavam e olhavam com ar entendido. Mas o velho sofrido, solitário, abandonado e encarcerado entre as ripas daquele quadro, apenas merecia indiferença e desinteresse. Pus-me então a pensar que talvez a velhice não seja arte que mereça a atenção daqueles intelectuais entendidos na ciência de representar através da pintura. Ou será alguma hipocrisia, egoísmo ou mesmo algum complexo de culpa que os obriga a desviar o olhar? Aquela gente tão plena de sabedoria sobre tela, não tem velhos na família? Ou simplesmente não pensam chegar a velhos?.
Na verdade, com todo este alheamento, com toda esta indiferença chega a parecer-me que eles não sabem que naquela galeria onde entraram como entendidos, eles apenas se movimentam como sonâmbulos, espantalhos a tentar afastar os seus próprios fantasmas, fazendo-se passar por algo que lhes dê a sensação de que estão vivos mas não velhos.

Aníbal Lopes

Jan/16