“ Porém, cada dia traz com sua pena
sua esperança, ou será isto fraqueza do narrador, que de certo leu
tais palavras ou as ouviu dizer e gostou delas, porque vindo com a
pena a esperança, nem a pena se acaba nem a esperança é mais do
que isso...”
José Saramago, in Levantados do Chão
Saramago não é o discurso mais fácil
para mim. Não sou pessoa de fazer que percebo bem o que me deixa
dúvidas, só porque ler Saramago dá assim uma espécie de aureola
intelectual. Fazer de conta não é a minha praia. Mas como diz o
povo, no melhor pano cai a nódoa, aqui visto ao contrario, tipo de
repente fez-se luz. Este excerto de Saramago não me abriu novos
horizontes mas trouxe-me algum alivio; Afinal, e salvo as devidas
distâncias, não sou só eu que tenho momentos de fraqueza em
relação à perda de esperança e falta de crer no futuro deste
povo, mesmo levando em conta as distancias temporais. Também fiquei
a saber que é aceitável (mesmo que seja uma fraqueza) que se use no
que escrevemos, ideias, conceitos e palavras que lemos ou ouvimos a
outros, e cuja identidade a nossa memória perdeu ou nunca conheceu.
Há ideias inspiradoras que se tornam património de todos, e que completam as nossas próprias ideias. Mas
não podendo identificar os seus autores, como podemos usa-las sem
parecer que estamos a fazer um uso indevido delas?. Devemos dizer que
não são da nossa lavra, mesmo que o contexto onde estão inseridas
seja nosso?