quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O VELHO DO QUADRO.


O VELHO DO QUADRO

Aquela galeria estava cheia de quadros; Castelos, pontes, barcos, bailarinas e até mulheres remi-nuas, entre outros de formas estranhas que eu não entendo. Mas um deles, meio escondido a um canto, representava um velho com evidentes sinais de sofrimento estampados no rosto. Reparei que ninguém reparava no quadro do velho sofrido. As pessoas comentavam e olhavam com ar entendido. Mas o velho sofrido, solitário, abandonado e encarcerado entre as ripas daquele quadro, apenas merecia indiferença e desinteresse. Pus-me então a pensar que talvez a velhice não seja arte que mereça a atenção daqueles intelectuais entendidos na ciência de representar através da pintura. Ou será alguma hipocrisia, egoísmo ou mesmo algum complexo de culpa que os obriga a desviar o olhar? Aquela gente tão plena de sabedoria sobre tela, não tem velhos na família? Ou simplesmente não pensam chegar a velhos?.
Na verdade, com todo este alheamento, com toda esta indiferença chega a parecer-me que eles não sabem que naquela galeria onde entraram como entendidos, eles apenas se movimentam como sonâmbulos, espantalhos a tentar afastar os seus próprios fantasmas, fazendo-se passar por algo que lhes dê a sensação de que estão vivos mas não velhos.

Aníbal Lopes

Jan/16

Sem comentários:

Enviar um comentário