domingo, 31 de março de 2013

CADÊ A PONTE ??

A Ponte está onde sempre esteve, mas aqui, parece que foi levada pela cheia. No entanto foi apenas engolida pelas águas excedentárias do Maranhão. Nada de novo, mas nos meus mais de trinta anos de Mora, não me recordo de cheia maior.

(Foto de Nuno Mirão)

quinta-feira, 28 de março de 2013

RECUPERAÇÃO DA ANTIGA ESTAÇÃO DA CP

 O projecto de arquitectura para a recuperação da antiga estação de caminho-de-ferro de Mora, a cargo da CVDB Arquitectos Associados, vencedora do concurso público, estará pronto no fim de maio, devendo as obras arrancar «antes do final de 2013», anunciou a autarquia.

De acordo com o município de Mora, o concurso público para adjudicar quem vai realizar as obras decorre até Julho  prevendo a edilidade que o arranque da recuperação do edifício decorra antes do final de 2013.

O presidente da Câmara Luís Simão afiançou, em declarações à Agência Lusa, que, «se o projecto vier a ter financiamento comunitário, as obras podem começar em Setembro ou Outubro».

«A recuperação e reabilitação da antiga estação da CP de Mora é uma prioridade para a câmara municipal e estamos esperançados de que possa vir a ter o apoio de fundos comunitários», acrescentou.

Num investimento global de 1,5 milhões de euros, o projecto prevê a instalação da sede da Estação Imagem, um centro de tratamento de fotografia e espaço para exposições, o Arquivo Municipal e a Biblioteca, actualmente presentes na Casa da Cultura local, e um museu dedicado ao megalitismo do concelho.

A CVDB Arquitectos é responsável pelo Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Coa, Centro Cultural do Cartaxo, Escola de Música e Dança de Coimbra e Escola Secundária de Água de Pau, em Lagoa (Açores), entre outros projectos.

O objectivo do futuro espaço visa implantar um equipamento cultural que assuma uma função aglutinadora da população residente do concelho e que consiga captar o interesse de potenciais visitantes através de uma oferta lúdico-pedagógica inovadora, ancorada numa componente museológica sobre a História de Mora e suas gentes.

Para a edilidade, a aposta visa «fomentar o crescimento cultural da população que serve», «captar novos visitantes e motivar o seu regresso; promover o desenvolvimento do concelho de Mora», «divulgar o passado de Mora e projectar o seu futuro, nas suas várias dimensões» e ainda «requalificar os edifícios da antiga Estação de Mora, devolvendo-os às pessoas que outrora serviram, e valorize uma estrutura urbana pouco qualificada».

(In Sul Informaçaõ)

sexta-feira, 22 de março de 2013

ESTES ISLANDESES SÃO LOUCOS


Estes islandeses são loucos. Depois do colapso financeiro de 2008 não pagaram as dívidas dos bancos falidos e criaram uma nova constituição, redigida por 25 cidadãos, criando as bases de uma democracia directa. 

Fizeram o que Portugal, Grécia, Espanha e Itália não fizeram: confiaram na força da soberania popular. Mas o pior estava para vir: apostaram decisivamente nas indústrias criativas e culturais como principal força de crescimento, enquanto os países do Sul da Europa fizeram o que costumam fazer em situações clássicas de crise, onde o sector cultural é sempre visto como problema e não como fazendo parte da solução, sendo uma das áreas mais sacrificadas com cortes nas despesas e orçamento.

Resultado: os países do Sul esperneiam com a corda da austeridade na garganta, enquanto os loucos recuperam a economia. Segundo o El País (3 de Março), o impacto económico das actividades culturais (1.000 milhões de euros) situa-se agora apenas abaixo da histórica indústria da ilha: as pescas. Uma das primeiras medidas do governo eleito em 2009, foi esse: em vez de estar refém de algumas indústrias, apostou na diversificação. 

O resto foi com a jovem ministra da cultura Katrín Jakobsdóttir que desde que está no governo, há quatro anos, conseguiu converter os artistas em protagonistas da retoma económica, cortando nas despesas fixas, e aumentando nas contribuições a projectos culturais independentes, numa mescla de tecido público e privado muito ágil, mas que em nenhum momento supõe a renúncia do Estado na gestão da cultura e educação. 

A sociedade civil também contribuiu, com um grupo alargado de agentes culturais a tentar encontrar uma estratégia para a sua área. Queriam provar que podiam contribuir para a resolução da crise tanto como o sector dos alumínios, por exemplo. E uma série de iniciativas ocorreram. Algumas loucas: a Academia das Artes juntou engenheiros, cientistas alimentares, designers e agricultores no sentido de criarem novos produtos para serem vendidos no mercado internacional e a coisa revelou-se um sucesso. 

Por sua vez o organismo de exportação da música islandesa não tem mãos a medir, mostrando que existe muito mais para lá de Björk ou Sigur Rós para o mundo conhecer – o ano passado 43 bandas tocaram no exterior. 

Ao mesmo tempo a indústria do cinema está em ebulição, em parte graças à política governamental de reembolsar 20% dos custos de produção de filmes ou série de TV filmadas no país (Ridley Scott ou Darren Aronofsky filmaram ali recentemente). E a indústria dos jogos de vídeo cresceu exponencialmente. 

Tudo isto teve repercussões noutros sectores, com destaque para o turismo. A natureza continua a ser atracção, mas o novo surto de visitantes vai atraído pela cena musical. Resultado: depois da crise, a assistência a concertos, espectáculos e exposições subiu. 

E tudo indica que o crescimento destas indústrias não vai abrandar, porque o investimento nelas é cada vez maior. De onde vem o dinheiro? Da indústria das pescas. Sei o que está a pensar quem enverga gravata por obrigação: tem apenas 320, 000 habitantes, é um país do tamanho de Portugal, é um caso singular, existem outros elementos para compreender a recuperação, como o aumento selectivo dos impostos, e o país enfrenta desafios (a moeda desvalorizou e a dívida externa continua por pagar). 

Mas será que, apesar de todas as diferenças entre países, não há nada, mesmo nada, a retirar desta experiência? A verdade é que apostaram em sectores normalmente negligenciados e recuperaram dos seus problemas económicos. Em vez da austeridade, a criatividade. E os loucos são eles? 

Público (2) 17-3-2013

(Imagem TelaUniversel)

sábado, 16 de março de 2013

HABEMUS PAPA




 Non habemus papa

Caríssimos irmãos, peço-vos que sejais vós a legendar estas imagens.

domingo, 10 de março de 2013

TODOS SOMOS CHÁVEZ

Esta noite, a Camila vai deitar-se rodeada de tristeza. Com nove anos, assiste às lágrimas dos pais por um homem que nunca viu senão na televisão. O pai contar-lhe-á outra vez a história do tenente da força aérea que deu voz aos sem voz. E um dia, mesmo que a revolução volte à barriga da terra, as paredes das favelas já não cantarão só as batalhas de Simón Bolívar. Os avós narrarão aos pais a primeira vez que viram um médico e os pais repetirão aos filhos a primeira vez que os avós aprenderam a escrever.

Talvez o façam a chorar. De alegria, como aquela mulher que no bairro de Antímano me falou da primeira vez que foi vista por um dentista. De orgulho, como aquele homem que me mostrou o primeiro bairro livre de analfabetismo, o 23 de Enero. De coragem, como os que desceram das encostas durante o golpe de Estado para resgatar Hugo Chávez. Acima de tudo, e apesar de todas as diferenças, porque é um deles. Porque é um dos nossos.

Que parte de um continente dependa deste homem é um problema mas também a constatação do quão imprescindível era Hugo Chávez. Nenhuma perda é irreparável senão quando os povos não estão preparados para manter alta a bandeira dos que caem. É esse o maior desafio de uma América Latina que não seria o que é hoje sem Hugo Chávez.

Na Venezuela, não há bolivariano que não saiba o poema de Pablo Neruda cantado por Ali Primera: "Ellos no serán bandera/para abrazarnos con ella/y el que no la pueda alzar/que abandone la pelea". A melhor homenagem a Hugo Chávez será, sem dúvida, a conquista de uma sociedade em que os trabalhadores e o povo sejam os protagonistas.

Não será fácil. Ainda não passou um dia e já pairam os abutres. Estão em todo o lado. Também na imprensa portuguesa. Mas não nos esqueçamos porque choram milhões de pobres. Morreu alguém que deu a vida pela justiça social e pelo progresso. Quando ainda não havia arrefecido o cadáver da União Soviética e todavia se acalentava o velho sonho capitalista do fim da história, muitos despertavam com o grito dos filhos de Bolívar: socialismo ou barbárie.

É por isso que esta noite as lágrimas não caem só em casa de Camila. Os indígenas bolivianos, os bisnetos cubanos de Martí, os guerrilheiros colombianos, os sandinistas da Nicarágua, os sem-terra brasileiros, os negros do Harlem, os perseguidos em Tegucigalpa, os patriotas sírios, o mártir povo palestiniano, os reprimidos na Líbia e todos os que genuinamente se levantam no mundo contra o capitalismo. Porque todos somos Chávez.

Bruno de Carvalho, in KontraKorrente.

(Imagem Eliomar)

sábado, 9 de março de 2013

PURA REALIDADE



Pura realidade, de facto. Mas será que este Povo vai continuar a pactuar com isto sem tomar uma atitude? A luta não pode ser só na rua; A luta tem de ser também e principalmente, nas urnas. 
Se o voto é a arma do Povo, porque continuamos a disparar contra nós próprios? Porque continuamos a dar ao algoz, a corda com que nos amarra?.
É tempo de acabar com as escolhas erradas e tomar o nosso destino nas nossas mãos.
Que estas palavras da Actriz Joana Manuel, nos possam despertar deste conformismo, porque não é verdade que tudo isto tenha de ser assim.

LEMBRAR A REFORMA AGRÁRIA


Numa altura em que mais de um milhão de Portugueses em idade activa não tem trabalho e, reconhecidamente, a fome grassa em muitas zonas do país, julgo que faz sentido lembrar os tempos da chamada Reforma Agrária.
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A Reforma Agrária é ainda hoje uma referência do Abril do Povo, mas são cada vez menos os que a viveram. Nesta altura de crise, em que o País e o Povo estão nas mãos de interesses estrangeiros, e em que a cada dia que passa o nosso futuro é mais negro, não posso deixar de lembrar um tempo em que acreditamos que tínhamos o nosso destino nas nossas mãos. Não se cumpriu o sonho, mas a experiência que vivi, essa recordá-la-ei para sempre:



Em Outubro de 1975, quando regressei de Angola, era o tempo do sonho chamado “Reforma Agrária”. Curiosamente não assisti ao chamado Verão quente de 75, de que fez parte a ocupação dos latifúndios agrícolas do Alentejo, mas as noticias chegavam a Angola, e sabia que os camponeses, na tentativa de trazer melhores dias para os campos de Portugal, e mais concretamente para os campos do Alentejo, tinham avançado para a ocupação de milhares de hectares de terra  abandonada, na tentativa de acabar com uma sociedade latifundiária, que condenara à miséria, milhares de Alentejanos.
Pois foi nesse sonho que eu acabei por me integrar. Eu não sabia nada de agricultura, mas foi muito fácil a aprendizagem, pois havia sempre alguém disposto a ensinar. Encontrei um ambiente fantástico onde havia lideres, mas não havia chefes. Todas as decisões eram tomadas em plenário, fosse para comprar ou para vender, ou simplesmente para escolher um responsável para qualquer actividade.

Era visível no rosto das pessoas a felicidade e a confiança com que se enfrentava o trabalho. As pessoas sentiam que eram donas do seu destino e do seu futuro. Aquela gente de mãos calejadas pela enxada, pela roçadora e pela gadanha, não se limitavam a cultivar os vales férteis e fáceis. Eles avançavam sobre os montes e as serras, e arrotearam terras de estevas e tojal bravio que nunca antes tinha visto uma ferramenta. Construíram barragens e mudaram a paisagem. Onde antes havia mato cerrado, apareceram cearas de trigo, milho, centeio, cevada e até tomate. Onde havia salgueirais, voltaram a prosperar os canteiros de arroz.
O Alentejo voltava a ser o “Celeiro de Portugal”.
Na UCP (Unidade Colectiva de Produção) 12 de Maio, fiz de tudo um pouco: Limpei valas e desbravei os silvados que impediam a água de chegar aos cultivos, cavei terra para arroz e semeei pasto para o gado, plantei morangos e até cantei ao desafio. Tornei-me mestre na arte de podar pessegueiros, aprendendo as técnicas de abrir a árvore para entrar o sol, cortar as guias que a faziam crescer demais, dar-lhe largura para facilitar a apanha e escolher as melhores guias que dariam depois a produção do ano seguinte. Desisti de aprender a podar macieiras e ameixoeiras, porque nunca me entendi com a técnica.
Foi também ali que aprendi a conhecer o povo a que pertencia, mas a vida levara-me por outras andanças.
O homem do campo daquela altura era rude, pouco instruído e pouco dado às regras do comportamento urbano. Mas era extremamente honesto e confiável. Era trabalhador e tinha um enorme sentido do dever no que respeitava à família. Descobri também que isso do homem do campo bater na mulher, não passava de um mito. Trabalhei com centenas de casais, e na grande maioria dos casos, era ela que dirigia a família, administrava a casa e decidia o que fazia falta e o que era supérfluo. Vi muitas vezes em dia de pagamento, o homem receber o seu ordenado e entregar o envelope à esposa. À hora do almoço, sentados no chão ou em pequenos troncos, eram quase sempre as mulheres que escolhiam o tema da conversa, e eram elas também que escolhiam o rumo que ele tomava.
Mas o sonho não durou muito.
A Reforma Agrária nunca passou de um sonho, e não se traduziu em legislação que alterasse o regime de propriedade, nem da distribuição da terra.
Os latifundiários apoiados pelos diversos governos, de que eles e os seus interesses também faziam parte, acabaram por recuperar as terras que não se sabem bem como foram adquiridas ao longo dos tempos, e a resposta à pobreza do campesinato Alentejano, fica mais uma vez adiado, por culpa da improdutividade de largos milhares de hectares de terra abandonada pela burguesia estéril e inútil deste pobre país.
O resultado não se fez esperar: Nos anos 80 o governo indemniza os latifundiários com chorudas recompensas que acompanham a devolução da terra melhorada, e a pobreza voltou ao Alentejo, e com ela a necessidade do povo voltar à emigração.
Resta-nos a esperança chamada “Alqueva”- um dos sorvedouros dos dinheiros públicos de que ninguém fala, e que visa transformar o Alentejo num imenso campo de golfe para os senhores do grande capital recuperarem forças das árduas tarefas diárias.
Para nós, povo Alentejano, sobram os quilómetros e quilómetros de arame farpado, e milhares de tabuletas ameaçadoras que nos atiram à cara os decretos-lei que nos proíbem sequer a aproximação, quanto mais apanhar uns espargos, turbaras ou “outros frutos silvestres”.
Das 412 Cooperativas e UCPs criadas com a Reforma Agrária, resta a memória das pessoas que deram corpo a um movimento que abriu brechas na sociedade Portuguesa, mas que acabou por não cumprir o sonho, tal como o próprio 25 de Abril não cumpriu.

Mas o Povo está na Rua. Teremos nós força para acordar do pesadelo, e recuperar o sonho?


Aníbal Lopes



terça-feira, 5 de março de 2013

CHUVA




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O céu amanheceu cinza
Por entre as nuvens ainda se escapam alguns raios de sol
No ar flutua a sensação de carregada umidade
No horizonte explodem auréolas de longínquos relâmpagos
A passarada esvoaça rápida na procura da proteção do emaranhado do silvado. Acho que eles sabem que a tempestade está a chegar
Sinto um tremor na pele mesmo estando protegido da aragem gelada
O céu está agora mais negro e os relâmpagos mais perto
Os pássaros tinham razão: Começou a chover. Cada vez mais forte
Sulcos de água começam a desenhar curiosas ramificações no vidro à minha frente
Lá fora a chuva cai intensamente
Abandono a janela e volto para a lareira
Pego no livro e recomeço a leitura
Era uma vez…

Aníbal Lopes

(Imagem Alolvose)