segunda-feira, 19 de julho de 2010

UM LEMA CARREGADO DE FUTURO




Vicente Del Bosque - o homem que dirigiu a selecção de futebol da Espanha, vencedora do Mundial, na África do Sul - começou como futebolista.
Jogou em vários clubes espanhóis, incluindo o Real Madrid, com o qual manteve sempre uma forte ligação, quer como jogador quer como treinador, e pelo qual foi sempre muito maltratado.
Na sua carreira de treinador, passou por vários clubes não só de Espanha.

A dada altura, treinou durante três épocas o Real Madrid e, com ele, o clube ganhou:
duas Ligas dos Campeões europeus; uma Taça Intercontinental; uma Super Taça europeia; dois Campeonatos de Espanha; duas Taças de Espanha - após o que foi despedido de forma humilhante.

Despedido porquê?: porque o dono do Real Madrid, Florentino Perez, entendeu que Del Bosque (que tinha vencido tudo) não tinha «o perfil necessário» para dirigir a «equipa galáctica», onde pontificavam nomes como Zidane, Figo, Roberto Carlos, Ronaldo, Beckam...

E substituido por quem?
O treinador escolhido para o substituir - por ter o «perfil necessário», obviamente - foi Carlos Queiroz.
Infelizmente para o Real Madrid, o «Professor», além do «perfil necessário» não tinha mais nada e, com ele, o clube perdeu, galacticamente, todas as competições em que participou.

Del Bosque reagiu sempre a estas situações com grande dignidade, sem alardes, sem declarações bombásticas, sem se deixar arrastar para os folhetins mediáticos que tradicionalmente enfeitam tais casos.
Talvez por isso, quando, em 2008, foi chamado a dirigir a selecção de Espanha, os média cairam-lhe em cima: aquele bigode que já não se usa; aquele rosto de Ásterix, aquelas tácticas ultrapassadas... - enfim, o homem não tinha o «perfil necessário», não é verdade?...
E quando a Espanha perdeu o primeiro jogo no Mundial, com a Suiça, foi o fim do mundo...

No entanto, Del Bosque não desistiu de lutar e de incitar os seu jogadores à luta, deixando claro, desde logo, que «se perdermos, a culpa é minha»...
E ganhou. Justamente.
Porque não desistiu de lutar.

Resta dizer que Del Bosque, que se assume como homem de Esquerda, tem um lema para a sua vida: «Temos de nos manter sempre fiéis aos nossos princípios».
Um lema que, diz ele, aprendeu «com os velhos ferroviários», amigos de seu pai, também ele ferroviário - e lutador, que passou três anos nas prisões fascistas de Franco, e se manteve sempre fiel aos seus princípios.

Um lema carregado de futuro.


Tirado DAQUI (Com a devida vénia)

4 comentários:

  1. Ora viva, amigo Aníbal.

    Temos aqui um bom artigo que nos ajuda a perceber algumas diferenças entre os conhecidos treinadores de futebol. Não vou discutir as técnicas e as tácticas porque, como já várias vezes afirmei, não percebo grande coisa de futebol, do jogo jogado e de como se podem ganhar ou perder jogos pela aplicação correcta dessas técnicas e tácticas. Mas isso é inerente ao próprio futebol. E o futebol é um jogo.

    Mas, quanto aos treinadores, estamos perante personalidades radicalmente diferentes, tal como ficou exemplarmente demonstrado no Mundial da África do Sul. O que aconteceu com a selecção francesa e, no nosso caso particular, com o seleccionador Carlos Queiroz no seu relacionamento com alguns jogadores demonstra essa diferença de personalidades. E, repito, não me estou a referir às técnicas, nem às tácticas.

    Gostei particularmente de ver, no final do jogo em que a selecção espanhola ganhou o título, Vicente del Bosque orgulhar-se da sua equipa, que conseguiu manter unida e coesa durante mais de cinquenta dias em que estiveram fora de casa. Pode dizer-se que, para isso, são profissionais. Mas os outros também o são.

    A vida, tal como o futebol, é feita de alegrias e tristezas, de vitórias e derrotas, de glórias e frustrações, tal como o meu amigo diz na abertura do blog. E não foi a humilhação sofrida no Real Madrid, no passado, nem a recente derrota com a Suíça que fizeram Vicente del Bosque desistir. Não desistiu de lutar e isso deu-lhe, merecidamente, a glória de ser campeão da Europa e do Mundo.

    E tudo isso porque se manteve sempre fiel aos seus princípios. Princípios que aprendeu com o pai ferroviário e com os seus colegas. Que lhe ensinaram que no futebol, tal como na vida, quem luta nem sempre vence, mas quem desiste de lutar perde sempre.

    Um abraço.

    C.B.

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  2. Luís Aragonês, o anterior seleccionador Espanhol, também ele vitorioso, pois levou a Espanha ao titulo Europeu, foi um dos críticos de Del Bosque, logo após a derrota com a Suíça. Pois nem antes nem depois da grande vitória, Vicente respondeu ao seu critico.
    Tive a oportunidade de ver a festa da selecção à chegada a Madrid (TV). Vicente Del Bosque mostrou-se o menos possível, dando todo o protagonismo aos seus jogadores, com a tranquilidade própria dos que se "mantêm sempre fieis ais seus princípios".

    Abraço.

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  3. Amigo Aníbal, mais uma de futebol.

    Parabéns pela primeira lata da época, conquistada em Guimarães.

    Mas parece que temos um problema dos grandes. Investiram mais de oito milhões num criador de avestruzes.

    Um abraço. E haja coração!

    C.B.

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  4. Amigo C.B. vou tentar armar-me naquilo que não sou: Entendido em futebol.
    Como sabe, Roberto vem do Saragoça, onde estava habituado a jogar entre os postes, e sobre pressão do adversário em 90% do tempo de jogo. Foi ai que se notabilizou.
    No Benfica é exactamente o contrario. O Benfica ataca 90% do tempo de jogo, e sofre contra-ataques rápidos do adversário, pelo que o guarda redes tem de ser uma espécie de libero, preparado para chegar á bola antes do adversário lançado para o contra-ataque. Isso significa que Roberto joga hoje 10, 15 metros mais à frente do que estava habituado. Isso precisa de treino, e espero que depois do natural período de adaptação, ele possa ser o que todos esperamos. Espero...

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