segunda-feira, 26 de abril de 2010

NADA É IMPOSSIVEL DE MUDAR



Desconfiem do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: Não aceiteis o que é o hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar.

Bertolt Brecht

3 comentários:

  1. Ora viva amigo Aníbal.
    Para comentar este tema, nada como a divulgação de um poema de Bertolt Brecht. Simples, directo e actual, com pequenas diferenças (?) quanto à época, ao regime e a alguns dos citados.

    À sua apreciação e dos amigos do blog.
    Um abraço.
    C.B.


    DIFICULDADE DE GOVERNAR

    1

    Todos os dias os ministros dizem ao povo
    Como é difícil governar. Sem os ministros
    O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
    Nem um pedaço de carvão sairia das minas
    Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
    Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
    Nunca mais haveria guerra. E atrever-se-ia a nascer o sol
    Sem a autorização do Führer?
    Não é nada provável e se o fosse
    Ele nasceria por certo fora do lugar.

    2

    E também difícil, ao que nos é dito,
    Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
    As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
    Se algures fizessem um arado
    Ele nunca chegaria ao campo sem
    As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
    De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
    Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
    Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

    3

    Se governar fosse fácil
    Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
    Se o operário soubesse usar a sua máquina
    E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
    Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
    E só porque toda a gente é tão estúpida
    Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

    4

    Ou será que
    Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
    São coisas que custam a aprender?

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  2. Amigo Aníbal.
    Espero que não me leve a mal, nem eu próprio quero tornar-me maçador nem abusador do seu tempo e do seu blog.
    Mas o blog serve para para divulgação, troca de comentários e de opiniões. E, no caso deste tema, a obra e a mensagem de Brecht merece a maior divulgação. Muitos conhecerão a vida e a obra deste autor, mas muitos mais não o conhecem, por isso tomo a liberdade de colar uma pequema biografia.


    BERTOLT BRECHT

    (Augsburgo, 1898 - Berlim, 1956)


    Escritor e dramaturgo alemão. Adere desde muito cedo ao expressionismo e vê-se obrigado a fugir da Alemanha em 1933, após escrever a Lenda do Soldado Morto, obra pacifista que provoca a sua perseguição pelos nazis. Ao iniciar-se a Segunda Guerra Mundial começa uma longa peregrinação por diversos países. Em 1947, perseguido pelo seu comunismo militante, vai para os Estados Unidos. A partir de 1949, e até à sua morte, dirige na Alemanha Oriental uma companhia teatral chamada do Berliner Ensemble.

    A produção teatral de Brecht é abundante. No conjunto das suas obras tenta lançar um olhar lúcido sobre o mundo moderno. Na Ópera de Três Vinténs dirige o seu olhar crítico para a organização social. Na intenção de actualizar o teatro épico, escreve uma série de obras em que recorre às canções e aos cartazes explicativos: Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, Santa Joana dos Matadores, O Terror e a Miséria no Terceiro Reich, Der Aufhaltsame Aufstieg des Arturo Ui. Em O Senhor Puntila e o Seu Criado Matti e em A Boa Alma de Sé-Chuão recorre às parábolas do teatro oriental. Em Vida de Galileu, obra que não deixa de aperfeiçoar desde a sua primeira redacção, Brecht centra-se no papel e na responsabilidade do intelectual.

    Bertolt Brecht é, além de dramaturgo, um importante teórico teatral. Nos seus Estudos sobre Teatro expõe a sua concepção cénica, baseada na necessidade de estabelecer uma distância entre o espectador e os personagens, a fim de que o ponto de vista crítico do autor desperte no espectador uma tomada de consciência. Destaca-se também na poesia, de forte conteúdo social.


    Agora com este pequeno poema ficamos a perceber porque todos gostamos de B.Brecht.(Todos? Olhe que não!...)


    Há homens que lutam um dia, e são bons;
    Há outros que lutam um ano, e são melhores;
    Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
    Porém há os que lutam toda a vida
    Estes são os imprescindíveis.

    Bertold Brecht


    Um abraço.
    C.B.

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  3. Pois é meu amigo, "nada é impossível de mudar", mas que por vezes custa, lá isso custa.
    Já conhecia este poema de Brecht, o grande mestre da dramatologia contemporânea, no dizer dos entendidos.
    Pessoalmente, considero que foi um lutador incansável por um mundo melhor.

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