quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A LABUTA DO RAMIRO (em Montargilês)

De enxada-gancha na mão, Ramiro lutava contra a grama e a junquilha que teimavam em ocupar o lugar das couves e dos nabos. No café do Pailó ou na tasca do Cardeirinha, a impinar umas mines, tava-se muito melhor, mas ele sabe que a horta é a sua salvação. Homem de pouco ganho e vida dura, há muito que pôs de parte a ciguera das tascas, onde sempre a torgia do vinho reles o obrigava a lançar fora o que o organismo rejeitava, juntamente com os sonhos que povoavam a sua cabeça, toldada pelos vapores do álcool.

As suas fezes agora távam viradas para os catraios, a quem tinha de dar comer.

Depois do trabalho pró patrão, era a horta que lhe levava o tempo. Um bocado de pão e queijo no talego, e ala prá horta. Era de lá que saía o feijão com couve e as sopas de carne, tão importantes para a família.

Costumava dizer que mal tinha tempo de “dar à calça”, pois até tinha de tár à coca dos estorninhos que se achavam donos dos figos, de que os seus catraios tanto gostavam.

Terminada a faina agrícola, ainda tinha de passar pela cumeada da guarita, a apanhar una tanganhos pró lume, que a sua Maria lhe pedira.

Esta é a permanente derriça do Ramiro, que não tem medo das nalgadas da vida, certo de que esta é a sua obrigação.

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