sábado, 29 de agosto de 2009

A CULPA FOI DO MARTIN MONIZ

Há quem tenha o talento de contar o tempo que lhe resta. Eu , com ou sem talento, prefiro contar o tempo que passou, principalmente o mais distante. Não porque o mais próximo me desagrade, ou eu seja do tipo de viver de recordações. Nada disso. Mas aquele tempo enchia-me a alma, e a sua lembrança ainda hoje me faz sorrir.

Se me derem um pouco de atenção, ficarei contente.

Poucos foram os rapazes do campo, na minha geração, que pelo menos uma vez não fugiram à Escola.

E digo do campo, porque os da Vila não tinham para onde fugir, sem que fossem vistos por alguém que logo os recambiava para a Escola.

Mas para quem fazia 5 Km para chegar à Escola, não faltavam esconderijos. Era uma atitude que raramente se tomava sozinho, mas não foi o meu caso. A minha fuga tornada aventura, foi uma atitude solitária.

Naquele dia, escolhi vaguear nos pinhais da Terra Preta, e merendar pão com solidão, sobre o chão coberto de caruma, onde hoje se situam os vinhedos do meu tio António.

Claro que à hora certa voltei para casa da minha Avó, como se nada tivesse acontecido de anormal, e ela não desconfiou de nada. Afinal, tinha sido fácil.

Mas mudei de opinião, quando vi a Florentina, que morava na Charruada, a subir pela encosta que dava acesso à casa dos meus Avós. Aquilo, era mau sinal.

A Florentina aproximou-se da minha Avó, com o recado da Professora: Porque é que o Aníbal não foi à Escola?.

Senti-me como um caracol apanhado em flagrante, a devorar uma alface que não lhe pertencia. Com a agravante de eu não ter carapaça para me esconder.

Nem com um par de lambadas abri o bico. Mas tinha agora outro problema: Enfrentar a Professora, e também a turma, que por certo se ia rir de mim.

Na manhã seguinte, ao chegar à Escola(F.Branca) as minhas pernas abanavam como cata vento batido por vento suão.

Ao contrario do suposto, a Professora não me disse nada, mas no primeiro intervalo, recebi ordens para ficar na sala. Claro que a Professora queria saber o que levava um bom aluno, sem problemas na matéria, a fugir à Escola.

Não resisti muito tempo, e acabei por confessar: A culpa fora do Martim Moniz.

Tudo começara 2 dias antes…

Os meninos da 4ª classe estavam a ter uma aula de história. A dada altura, a professora vira-se para o Victor e pergunta: “ Quem foi o soldado de D. Afonso Henriques que deu a sua vida, entrepondo-se entre as portas do Castelo de S. Jorge, e impediu que os Mouros a fechassem, permitindo a entrada do exercito de D.Afonso, e a conquista da Cidade de Lisboa”?.

Para mal dos meus pecados, o Victor não sabia a resposta. Então a Professora virou-se para mim, que era da 3ª classe, e fez-me a mesma pergunta.

Eu, armado em Chico esperto, e esquecendo que o Victor tinha mais três anos de idade e 30cm de altura que eu, respondi alegremente: Martim Moniz!!!!

Claro que foi a minha sentença de morte.

O Victor considerou humilhante receber lições dum puto da 3ª, e via-me como culpado. Assim que pôde, leu-me a sentença:”Amanhã vou-te esperar ao caminho. Vais ver como elas te mordem”.

Tive medo. Claro que tive medo, e decidi: Amanhã fujo à Escola.

A Professora foi compreensiva. Não ralhou e explicou-me que a minha atitude não se justificava, e que todos os problemas deveriam ser resolvidos com a Professora, pelo que eu deveria ter-lhe contado antes de fazer asneira.

O Victor tornou-se um amigo, do qual nada sei à décadas.

2 comentários:

  1. Olá Aníbal.
    Tambem andei na escola da Farinha Branca, mas muito depois de si.
    Já conhecia este seu texto de outras paginas.
    Parabens e continue. Cumprimentos.

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  2. Olá meu caro(a).
    Obrigado pela sua visita. Se assim o entender, gostaria que me falasse de si.
    Cumprimentos.

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