segunda-feira, 10 de agosto de 2009

CAMINHOS VELHOS

Se a saúde e o amor, são dádivas preciosas, a memória dos tempos e dos lugares felizes da infância/adolescência, principalmente quando se está fora da terra que nos viu nascer,, pode funcionar como reserva balsâmica, onde de tempos a tempos vamos buscar ânimo para enfrentar o fim das dádivas da juventude, nem sempre fáceis de aceitar.

Foi o que fiz recentemente. Fui à procura das veredas, trilhos e carreiros, que atravessavam vales e montes, e que eu, acompanhado de outros amigos ou sozinho, tantas vezes usei, para me juntar aos guerreiros dos outros montes, e formar verdadeiros exércitos de , como diz o Poeta, Índios e Capitães, terror da passarada a quem roubavamos os ninhos, e motivo de preocupação para os hortelões, quando passávamos perto dos valados que protegiam as suas laranjas, maçãs ou uvas. Enfim! Fui à procura dos caminhos velhos.

Quando decidi fazer esta viagem aos caminhos da minha meninice, acreditei que fechando os olhos, podia viajar no tempo e voltar atrás muitos anos. Era esse regresso ao passado, que eu ia procurar.

Sem ordem previamente estabelecida, fui ao Carvalhoso, Gavião, Feijôa, Charruada, Val da Areia, Abertas, Terra Preta, Farinha Branca, Val Torrado e a alguns outros recônditos lugares.

Claro que em nenhum desses lugares ouvi as cigarras nem os grilos que, sabe-se lá porquê, eu estava à espera, mesmo fora da época.

A paisagem quase solitária de antigamente, os caminhos que eu usava para ir aos pinhões, mortilios, camarinhas ou medronhos, foram engolidos por arame farpado, ou salpicados de vivendas ajardinadas, algumas rodeadas de artísticos cercados, como se o dono não quisesse ninguém por perto.

Noutros lados, o alcatrão tomou conta dos caminhos velhos, e tapou o mato e as pedras da minha memória, contrastando com o tojal e os silvados que noutros locais tomaram conta definitiva dos lugares onde outrora íamos ao musgo para o presépio da escola, ou ao rabisco da cortiça, que vendíamos do Ti Aníbal “Galego”.

Não houve o regresso ao passado que eu esperava, e as minhas lembranças não passam disso mesmo: Lembranças. Lembranças cujo rasto praticamente desapareceu.

Senti-me numa espécie de transe, meio aflito meio desiludido, com um sentimento de perda difícil de explicar.

O presente está a tornar-se passado demasiado depressa, e o passado perdeu importância.

Aos que se lembram dos caminhos velhos, resta-lhes recordar. E sonhar…

3 comentários:

  1. Não desapareceram apenas os caminhos, mas tambem os sitios a que nos levavam.

    ResponderEliminar
  2. As memorias ...são estradas que nos levam aos sitios mais misticos e secretos com um doce recordar dos tempos de ontem...para podermos sorrir amanha...

    adorei a forma como as teclas do seu pc se juntaram para dar este fantastico resultado...:)

    Parabens e continue...

    Estou de olho ...lol

    Sol

    ResponderEliminar
  3. Olá Sol.
    Muito obrigado pela visita, e pela simpatia.

    ResponderEliminar