terça-feira, 8 de junho de 2010

CAMINHOS


Julgo que todos nós, os que vêm aproximar-se o Outono da vida, e cujas benesses da juventude vão ficando cada vez mais longe, temos momentos de intensa nostalgia que nos trazem à memória vivências saudosas e lembranças dos lugares felizes. Eu sou assim uma espécie de vitima desse tipo de sentimentos.
Talvez por viver fora da minha terra, e de me ter desligado dela mais do que devia, as minhas lembranças sejam um misto de saudade e culpa, que agora me empurram para um reencontro.
Foi assim que no ultimo Domingo, resolvi voltar mais uma vez aos caminhos velhos.
Mas se pretendia matar saudades, apenas abri feridas.
É certo que os caminhos são agora estradas alcatroadas, mas já não levam aos meus locais de sonho.

A minha Escola, onde aprendi a ler, e a ter as primeiras noções de álgebra, é agora um edifico deprimente e abandonado. O murete que separava as duas salas, está desaparecido no meio de ervaçal e mato alto. Dos canteiros de flores, rodeados com pedrinhas, nem rasto. O portão do pátio está aberto, sinal de que já não guarda mais saberes.
A minha Escola já não existe, e nem imaginam como isso dói.

Depois fui visitar o “meu” Monte. Está mais bonito sem duvida, mas afastou-se das minhas lembranças.
Diferente estão a “minha” horta e as hortas dos meus vizinhos: Não existem.
No seu lugar há agora uma selva imensa. Como é possível? O que é feito daquelas terras produtivas, que davam de comer a tantas famílias? Hortas maravilhosas como a minha, a do ti David, a ti Zé do moinho, pai do meu querido e inesquecível amigo “Cagadaia”? Mais acima, a do ti Rogério, pai do Victor?. O que é feito dos laranjais e das figueiras?. E do poço, do tanque e da nora, que todos os dias eram usados?.
O que fizeram com os meus sonhos? O que vou fazer com as minhas lembranças?.
Dizem que na natureza nada se perde e que tudo se transforma. Mas acho que nem tudo se transforma para melhor, e também não sei se tenho vontade de voltar aqueles lugares.
Uma parte de mim, chegou ao fim da linha.

2 comentários:

  1. Caro Aníbal
    O mundo rural está a morrer. A maioria das pessoas aceita que o nosso desenvolvimento assenta no meio urbano, com mais ofertas económicas, culturais, sociais, ou seja, um verdadeiro bem-estar. Esta é uma visão, também dos políticos, veja-se as últimas notícias acerca do encerramento das escolas com menos de 21 alunos, sobre o pretexto do insucesso escolar, nada mais demagógico, e disso é um exemplo paradimático, a Escola de Brotas.
    Também na agricultura,as transformações são evidentes, o agriculor,cultivador do solo, zelador de culturas, tratador de animais, tornou-se num burocrata de fato e gravata, com pilha de papeis, regulamentos, projectos,recebedor de subsídios, num ano planta-se, no seguinte arranca-se etc,.
    É esta política, bem real, que transforma a paisagem, fecha as escolas e empurra as pessoas para os meios urbanos.
    Eu direi, que passamos de uma esperança renascida, com o 25 de Abril, para uma incerteza quanto ao futuro.

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  2. Caro JR, essa é de facto a perspectiva do futuro. Totalmente errada, acho eu, por isso esta politica de colmeia, nunca terá o meu apoio.
    Eu posso ser obrigado a viver nesta prisão sem muros, mas o meu espírito libertário, vagueará sempre por entre pinhais, caminhos e fontes.
    Quem nasceu no meio da Charneca, entre cumeadas e terras de regadio, nunca será prisioneiro do brilho do Néon.

    Abraço.

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