terça-feira, 24 de novembro de 2009

ZÁS, TRÁS, PÁS

Os meninos de hoje, vencem facilmente os monstros da Playstation, e dominam os jogos de computador, mas não fazem ideia do que é defrontar “inimigos” a sério, daqueles que têm ideias próprias, e não obedecem a nenhum programa.

Nos idos de 60, entre o fim da Farinha Branca e o principio das Abertas, ou vice versa, no vale do Porto de Burro, situava-se um descampado que assistiu a terríveis combates, lutas renhidas, onde por vezes nem faltava sangue, suor e lágrimas.

Chegados da Escola, e com um bocado de pão e queijo na mão, era velos a caminho do campo de batalha, onde os esperavam novas aventuras, e quiçá, se a sorte estiver do seu lado, novas vitórias.

Jogar ás escondidas ou mesmo jogar à bola, eram jogos interessantes, mas não o suficiente para acalmar aqueles espíritos guerreiros, e aquela vontade de vencer a sério.

Se na Escola éramos obrigados a decorar as vitoriosas aventuras de D. Afonso Henriques e D. Nuno Alvares Pereira, porque não ter as nossas próprias batalhas?.

Não demoravam muito a formação de dois exércitos, exibindo ameaçadoramente artísticas espadas de ripas de madeira roubadas das capoeiras, coelheiras, ou mesmo dos portões das hortas.

Com os exércitos rigorosamente alinhados um diante do outro, iniciava-se o combate: Zás, trás, pás prá qui, zás, trás, pás prá li, tudo com um cuidado inicial por forma a que ninguém se magoasse. Mas não durava muito aquela disciplina de combate. Uma manobra defensiva menos cuidada, e uma espada que atingia a mão. Aquilo doía e ás vezes até fazia sangue. Era o fim do ataque organizado e o principio de pontapés, lambadas e ás vezes até pedradas. Estava instalada a confusão generalizada, e cada um aviava-se como podia.

O anoitecer trazia o som do gong, e o fim dos combates:

- Óh Maneeeeeeel…!!! óh Ameeeeerico…!!! óh Aniiiiibal…!!!!

- Já vou nha maããããe!!!!!

Era a hora de compor a armadura, disfarçar os sinais da luta, por forma a evitar chatice em casa, e fugir as uns humilhantes açoites, o que raramente era conseguido.

Claro que tudo isso era feito entre juras de vingança e marcação de novos combates para o dia seguinte.

Como nobres cavaleiros que éramos, acabávamos por não guardar ressentimentos nem rancores, e no dia seguinte continuávamos amigos, até que novos combates acontecessem.

2 comentários:

  1. É de facto imprecionante as semelhanças da nossa infancia. Eu poderia perfeitamente ser um desses "guerreiros", pois travei exactamente as mesmas "batalhas".
    Soponho que todo o nosso Alentejo era assim. É certo que não tinhamos os briquedos de hoje, mas tinhamos imaginação suficiente para os inventar, e tinhamos principalmente uma liberdade que nos permitiu transformarmo-nos em sobreviventes de uma epoca ruim, mas que nos fortaleceu para enfrentar o futuro.
    Infelizmente, esse futuro acabou por não ser brilhante. Mas por culpa de outros "exercitos".

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  2. É verdade, meu caro. Concordo com o que diz.
    Acho que aquele tempo, apesar das dificuldades inerentes à época, era um tempo despreocupado e feliz. É verdade que tínhamos a guerra no horizonte, mas não havia preocupações relacionadas, por exemplo, com segurança ou drogas.
    O mundo de hoje oferece tudo, mas é muito mais perigoso
    Apareça sempre.

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