quarta-feira, 16 de novembro de 2016

EU AMO ESTE RIO

São não sei quantas da tarde, deste dia do meado do mês, em pleno inicio invernal. Percorro as margens do Raia num sitio de pouca água. Ela, a água, ficou retida logo ali, pela imensa parede de betão que se alarga de encosta a encosta, e encimada pela estrada que me leva ao local idílico onde me encontro. Mas a água escapa-se propositadamente de ambos os lados da parede, através de enormes canais. Esses canais são como veias que irrigam de vida a grande planície que se estende até quase ao mar. Pelo caminho encontram outros canais, quais veias com as mesmas funções e que juntos formam uma família que fervilha de vida, transformando a terra seca em campos de fertilidade.
Por esta altura, pouca água corre pelos canais, mas a seu devido tempo, correrá a canal cheio. Este rio, que outros chamam de Ribeira, é um manancial de vida.
Saltito entre os enormes pedregulhos que se espalham pelo leito do rio, agora quase nu de água, mas bem vestido na sua orla rodeada de bosques de salgueiral e emaranhados de silvado. Uma lontra esconde-se rapidamente, e há passarada por todos os lados que chilreiam num concerto desordenado e insistente, como se fora chegada a hora do recolher à segurança do emaranhado do bosque. Sou surpreendido por um insistente zzzzzzzzzzzz. Reparo que são abelhas que esvoaçam por entre as brancas flores de um enorme medronheiro. Curiosamente o medronheiro tem também uma abundante quantidade de frutos praticamente maduros.. Fico fascinado pelo facto de a mesma árvore apresentar de forma tão clara, dois ciclos de vida em simultâneo.
As abelhas não parecem importunar-se com a minha presença, e dividem comigo o manjar que a natureza nos oferece através daquele medronheiro. Elas ficam com o pólen e eu com os medronhos.
Mas elas ficam e eu vou. Mas não sem antes contemplar de novo a beleza do local, onde os sons e odores da natureza se complementam na perfeição. Aqui e ali, alguns temporões malquereres brancos e amarelos, parecem ser o prenuncio de uma primavera que ainda vem longe.
O respeito quase religioso que tenho pela natureza, faz com que não me sinta ali um elemento estranho, mas antes alguém que sente o lugar como parte integrante da sua própria natureza.
Eu amo este Rio, a quem os outros chamam de Ribeira.


Aníbal Lopes

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