quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ALENTEJO, MEU AMOR

ALENTEJO

Palavra mágica que começa no Alem e termina no Tejo, o Rio da Portugalidade.

O Rio que divide e une Portugal, e que é semelhante ao homem Português. Fugiu de Espanha, à procura do mar.

O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da Planície dão-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do Monge. As amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro. Não é Alentejano quem quer. Ser Alentejano não é um dote; É um dom. Não se nasce Alentejano. É-se Alentejano.

Portugal nasceu no Norte, mas foi no Alentejo que se fez homem. Guimarães é o Berço da Nacionalidade. Évora é o Berço do Império Português.

Não foi por acaso que D.João II se teve que refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras, um homem tem as vistas curtas; Só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.

Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao Reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia, para D.João II perceber que só o costado de um Alentejano conseguiria suportar um empreendimento daquele vulto. Aquilo que para um homem comum é muito longe, para um Alentejano, fica logo ali. Para um Alentejano não há longe nem distância, porque só um Alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência, onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.

Foi por essa razão que D. Manuel decidiu entregar da Armada decisiva a Vasco da Gama.

Mais dois anos de mar…

Para um Alentejano, o caminho faz-se caminhando, e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar no sítio onde Bartolomeu Dias tinha parado.

O problema de Portugal é precisamente este: Muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja: Muitos Portugueses e poucos Alentejanos.

D.Nuno Alvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário não tinha partido tão confiante para Aljubarrota. D.Nuno sabia que uma batalha não se decidia pela quantidade, mas pela qualidade dos combatentes.

É certo que o Rei de Castela contava com um poderoso exército composto por Espanhóis e Portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia dúzia de Alentejanos. Não se estranha assim a resposta de D.Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: “Vocês são muitos? O que é que isso interessa se os Alentejanos estão do meu lado?”.

Mas os Alentejanos não servem só grandes causas nem servem só para grandes guerras.. Não há como um Alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. Por isso se diz que Deus fez a mulher para companheira do homem, mas depois teve que fazer os Alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um Alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este, intrigado, lhe perguntou o que é que o Alentejano tinha que ele não tinha: “Tem tempo e tu tens pressa.”

Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher.

Andar a correr é um problema que graças a Deus, os Alentejanos não têm. Até porque os Alentejanos e o Alentejo foram feitos no sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.

Até nas anedotas os Alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. Os brancos contam anedotas de pretos, os Brasileiros contam anedotas de Portugueses e os Franceses contam anedotas dos Argelinos. Só os Alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios e divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem se espelho para quem os ouve.

Mas para uma pessoa se rir de si própria, não basta ser ridícula, porque ridículos todos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.

Não se confunda no entanto sentido de humor com alarvice. O sentido de humor é um dom da inteligência. A alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. E as anedotas Alentejanas são autênticas pérolas de humor: Curtas, incisivas, desconcertantes e inteligentes, revelando um sentido de observação, um sentido critico e um poder de síntese notáveis.

Como bom Alentejano que me preso de ser, deixei o melhor para o fim.

O Alentejo, como todos sabem, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. A água é aquilo porque qualquer Alentejano anseia. E o pão…

Mas há melhor iguaria do que o pão Alentejano? O pão Alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa. E é o único pão do mundo que não tem pressa comido. É tão bom no primeiro dia como no dia seguinte, ou no fim da semana.

Só quem come pão Alentejano está habilitando para entender o mistério da fé. Come-lo faz-nos subir ao céu.

É por tudo isto que sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão, ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de inverno, dou graças a Deus por ser Alentejano.

Que maior bênção poderia um homem almejar?.


(Santana-Maia Leonardo)

2 comentários:

  1. Este texto foi escrito por mim em 15 de Dezembro de 2005, publicado em várias revistas e jornais e faz parte do meu livro REXISTIR (http://www.editorialminerva.com/Santana-Maia-Leonardo.html), juntamente com o texto O ALENTEJANO (http://aracadoalentejano.blogspot.pt/) que também circula na net, a maior parte das vezes sem fazer referência ao seu autor.
    Agradeço a sua divulgação.

    Santana-Maia Leonardo

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  2. Caro Doutor, divulgar o nosso Alentejo está no sangue de todos os que cá nasceram e o amam. Os que o talento não bafejou, fazem-no através de quem o faz com brilhantismo, como o Senhor.
    Claro que a propriedade intelectual tem de ser respeitada, mas há muita gente que se faz passar pelo que não é, sem que isso os incomode.
    Saudações.

    Aníbal Lopes

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