

25 anos do nosso lado da barricada. Chegou a hora do descanso do Guerreiro.
Mas já outro líder se levanta porque a luta continua.
TERMO DE ABERTURA: Serve este Blog para nele depositar as minhas alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, glórias e frustrações. a que juntarei algumas opiniões, mas com fair-play, e sempre sem abdicar deste meu sentir de vermelha afeição. (Foto de José Caeiro)
Vi ontem na televisão um senhor de cabelos brancos, julgo que se chama Catroga, a explicar que vai ter um ordenado de 639 mil euros por ano na EDP, aquela empresa que dava muito dinheiro ao Estado e que o governo ofereceu aos chineses.
Pus-me a fazer contas e percebi que o senhor vai ganhar 1750 euros por dia. E depois ouvi o que ele disse na televisão. Vai ganhar muito dinheiro porque tem o seu valor de mercado, tal como o Cristiano Ronaldo. Foi então que fiquei a pensar. Qual é o teu valor de mercado, mãe?
Tu acordas todos os dias por volta das seis e meia da manhã, antes de saíres de casa ainda preparas os nossos almoços, passas a ferro, arrumas a casa, depois sais para o trabalho e demoras uma hora em transportes, entra e sai do comboio, entra e sai do autocarro, por fim lá chegas e trabalhas 8 horas, com mais meia hora agora, já é noite quando regressas a casa e fazes o jantar, arrumas a casa e ainda fazes mil e uma coisas até te deitares quando já eu estou há muito tempo a dormir.
O teu ordenado mensal, contaste-me tu, é pouco mais de metade do que aquele senhor de cabelos brancos ganha num só dia. Afinal mãe qual é o teu valor de mercado? E qual é o valor de mercado do avozinho? Começou a trabalhar com catorze anos, trabalhou quase sessenta anos e tem uma reforma de quinhentos euros, muito boa, diz ele, se comparada com a da maioria dos portugueses. Qual é o valor de mercado do avô, mãe? E qual é o valor de mercado desses portugueses todos que ainda recebem menos que o avô? Qual é o valor de mercado da vizinha do andar de cima que trabalha numa empresa de limpezas?
Ontem à tardinha ela estava a conversar com a vizinha do terceiro esquerdo e dizia que tem dias de trabalhar catorze horas, que não almoça por falta de tempo, que costumava comer um iogurte no autocarro mas que desde que o motorista lhe disse que era proibido comer nos transportes públicos se habituou a deixar de almoçar. Hábitos!
Qual é o valor de mercado da vizinha, mãe? E a minha prima Ana que depois de ter feito o mestrado trabalha naquilo dos telefones, o “call center”, enquanto vai preparando o doutoramento? Ela deve ter um enorme valor de mercado! E o senhor Luís da mercearia que abre a loja muito cedo e está lá o dia todo até ser bem de noite, trabalha aos fins de semana e diz ele que paga mais impostos que os bancos?
Que enorme valor de mercado deve ter! O primo Zé que está desempregado, depois da empresa onde trabalhava há muitos anos ter encerrado, deve ter um valor de mercado enorme! Só não percebo como é que com tanto valor de mercado vocês todos trabalham tanto e recebem tão pouco! Também não entendo lá muito bem – mas é normal, sou criança – o que é isso do valor de mercado que dá milhões ao senhor de cabelos brancos e dá miséria, muito trabalho e sofrimento a quase todas as pessoas que eu conheço!
Foi por isso que te escrevi, mãe. Assim, a pôr as letrinhas num papel, pensava eu que me entendia melhor, mas até agora ainda estou cheio de dúvidas. Afinal, mãe, qual o teu valor de mercado? E o meu?”
(Francisco Queirós, in as Beiras.pt )
ALENTEJO
Palavra mágica que começa no Alem e termina no Tejo, o Rio da Portugalidade.
O Rio que divide e une Portugal, e que é semelhante ao homem Português. Fugiu de Espanha, à procura do mar.
O Alentejo molda o carácter de um homem. A solidão e a quietude da Planície dão-lhe a espiritualidade, a tranquilidade e a paciência do Monge. As amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe a resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro. Não é Alentejano quem quer. Ser Alentejano não é um dote; É um dom. Não se nasce Alentejano. É-se Alentejano.
Portugal nasceu no Norte, mas foi no Alentejo que se fez homem. Guimarães é o Berço da Nacionalidade. Évora é o Berço do Império Português.
Não foi por acaso que D.João II se teve que refugiar em Évora para descobrir a Índia. No meio das montanhas e das serras, um homem tem as vistas curtas; Só no coração do Alentejo, um homem consegue ver ao longe.
Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao Reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas, sem conseguir chegar à Índia, para D.João II perceber que só o costado de um Alentejano conseguiria suportar um empreendimento daquele vulto. Aquilo que para um homem comum é muito longe, para um Alentejano, fica logo ali. Para um Alentejano não há longe nem distância, porque só um Alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência, onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre.
Foi por essa razão que D. Manuel decidiu entregar da Armada decisiva a Vasco da Gama.
Mais dois anos de mar…
Para um Alentejano, o caminho faz-se caminhando, e só é longe o sítio onde não se chega sem parar de andar. E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar no sítio onde Bartolomeu Dias tinha parado.
O problema de Portugal é precisamente este: Muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. Ou seja: Muitos Portugueses e poucos Alentejanos.
D.Nuno Alvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso. Caso contrário não tinha partido tão confiante para Aljubarrota. D.Nuno sabia que uma batalha não se decidia pela quantidade, mas pela qualidade dos combatentes.
É certo que o Rei de Castela contava com um poderoso exército composto por Espanhóis e Portugueses, mas o Mestre de Avis tinha a vantagem de contar com meia dúzia de Alentejanos. Não se estranha assim a resposta de D.Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: “Vocês são muitos? O que é que isso interessa se os Alentejanos estão do meu lado?”.
Mas os Alentejanos não servem só grandes causas nem servem só para grandes guerras.. Não há como um Alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida. Por isso se diz que Deus fez a mulher para companheira do homem, mas depois teve que fazer os Alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. Na cama e na mesa, um Alentejano nunca tem pressa. Daí a resposta de Eva a Adão quando este, intrigado, lhe perguntou o que é que o Alentejano tinha que ele não tinha: “Tem tempo e tu tens pressa.”
Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. E muito menos ao coração de uma mulher.
Andar a correr é um problema que graças a Deus, os Alentejanos não têm. Até porque os Alentejanos e o Alentejo foram feitos no sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.
Até nas anedotas os Alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. Os brancos contam anedotas de pretos, os Brasileiros contam anedotas de Portugueses e os Franceses contam anedotas dos Argelinos. Só os Alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios e divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem se espelho para quem os ouve.
Mas para uma pessoa se rir de si própria, não basta ser ridícula, porque ridículos todos somos. É necessário ter sentido de humor. Só que isso é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama.
Não se confunda no entanto sentido de humor com alarvice. O sentido de humor é um dom da inteligência. A alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. E as anedotas Alentejanas são autênticas pérolas de humor: Curtas, incisivas, desconcertantes e inteligentes, revelando um sentido de observação, um sentido critico e um poder de síntese notáveis.
Como bom Alentejano que me preso de ser, deixei o melhor para o fim.
O Alentejo, como todos sabem, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. A água é aquilo porque qualquer Alentejano anseia. E o pão…
Mas há melhor iguaria do que o pão Alentejano? O pão Alentejano come-se com tudo e com nada. É aperitivo, refeição e sobremesa. E é o único pão do mundo que não tem pressa comido. É tão bom no primeiro dia como no dia seguinte, ou no fim da semana.
Só quem come pão Alentejano está habilitando para entender o mistério da fé. Come-lo faz-nos subir ao céu.
É por tudo isto que sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão, ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de inverno, dou graças a Deus por ser Alentejano.
Que maior bênção poderia um homem almejar?.
(Santana-Maia Leonardo)
No passado dia 27 de Dezembro, um Tribunal Administrativo egípcio decretou o fim dos chamados “testes de virgindade” a que as detidas do sexo feminino eram sujeitas nas prisões militares.
Tudo começou após a detenção de quase duas dezenas de mulheres, ocorrida em Março, na Praça Tahrir. As mulheres, que participavam num protesto pró-democracia, foram feitas prisioneiras sob diversas acusações, entre elas a de violação do recolher obrigatório (apesar de, segundo se refere, a detenção ter sido feita às 15h…).
As detidas foram insultadas, amarradas, arrastadas pelo chão, esbofeteadas, espancadas e maltratadas. Já na prisão, foram separadas em dois grupos: as casadas e as solteiras. Estas últimas foram então levadas, uma a uma, para uma sala onde, com as janelas abertas e à vista de soldados que se divertiam a fotografar a cena, foram obrigadas a despir-se e a deixar-se “examinar”, durante longos minutos, por um suposto médico, com o objectivo de verificar a sua virgindade.
Ao contrário das outras, uma das detidas, Samira Ibrahim, de 25 anos, apresentou queixa formal contra os militares egípcios que a maltrataram. Por causa disso, recebeu ameaças de morte. Mas, contra todas as probabilidades (até os seus advogados diziam que o caso não parecia poder ter um desfecho favorável), e apesar de os militares terem negado repetidamente que tais actos tivessem sido levados a cabo, esta mulher conseguiu, pela sua coragem, aquilo que parecia impossível: o Tribunal decretou que os “testes de virgindade” levados a cabo nas prisões militares tenham um fim imediato.
Esta é, certamente, apenas uma pequena vitória na enorme guerra que é necessário travar para que a discriminação, a desvalorização e a segregação a que as mulheres são sujeitas em países conservadores, patriarcais e opressivos como o Egipto terminem definitivamente. Muito há ainda a fazer: nas palavras de uma activista da Human Rights Wacht, Heba Morayef, a luta pelos direitos das mulheres é ainda maior que a luta pelos direitos humanos.
Mas a audácia de Samira, desta jovem mulher que ousou enfrentar os militares egípcios, tem de ser enaltecida. Apesar da humilhação, da vergonha, da tortura a que foi submetida, esta verdadeira guerreira, mais do que por si, lutou pelas outras mulheres. Samira disse que tomou a decisão de avançar com a queixa para que nenhuma outra mulher tenha de passar pelo que ela passou. E a sua atitude foi determinante nesse sentido, como resulta da decisão proferida pelo Tribunal egípcio.
Os heróis são feitos desta massa. Da massa da coragem; da massa da bravura; da massa dos sonhos. Samira sonha com um mundo melhor, mais humano, mais igual, mais fraterno, mais livre. E o sonho, como todos sabemos, comanda a vida.