quarta-feira, 18 de agosto de 2010

UMA CHEGADA SURPREENDENTE


Era a hora da carreira chegar. Por isso, ou porque havia demasiada gente sem trabalho, a Praça estava bem composta de curiosos. Claro que também havia quem esperasse familiares, um ou outro lojista à espera de encomendas, ou eventualmente alguém por afazeres ocasionais. Mas a maioria era mesmo para matar o tempo.

Como de costume, a carreira chegou atrasada, mas ao chegar logo se tornou atracção. Há sempre a esperança da chegada de qualquer desconhecido que possa ser motivo de comentários.
Nesse dia as esperanças não foram defraudadas. Para surpresa de todos, o último passageiro a sair era uma mulher desconhecida.
A forasteira não surpreendeu apenas por chegar cheia de malas, sinal evidente de que chegara ao seu destino. Surpreendeu principalmente por ser muito bonita, alta, de saia curta e decote generoso. Com um passo felino e seguro, começou a arrumar as malas no passeio. Talvez precisa-se de ajuda. Foi o que um ou outro tentou. Não foi preciso um gesto sequer; bastou um olhar gélido para os bem-intencionados esbarrarem numa muralha de indiferença.

Junto das malas, encostada à parede, era evidente que esperava alguém que se atrasara.
Os ociosos presentes não disfarçavam a sua admiração por aquele espanto de mulher. De facto Deus não dormia quando fez aquele milagre, e pensou em todos os pormenores.
A intrigante surpresa continuava a invadir os espíritos dos presentes. Quem era aquela desconhecida, e o que fazia naquela terra, com evidentes sinais de chegara para ficar?
Finalmente chegou a pessoa que a vinha buscar. Aquele velho Opel Kadet vermelho era conhecido de todos. Tratava-se do Alberto, o ourives da terra.
Mas que diabo tinha o ourives a ver com aquele monumento? Filha não devia ser, pois todos sabiam que o Alberto era solteirão e outra família não se lhe conhecia. A não ser… Náááá!!! O Alberto não tinha arcaboiço para aquele “equipamento”…ou será que tinha?
O Alberto chegou junto dela; apenas trocaram algumas palavras imperceptíveis e sem um único gesto que ajudasse a perceber aquele encontro.
Metidas as malas no carro, ela ocupou o lugar ao lado do Alberto, sem se preocupar com a sua saia curta. Aquela visão, era um compêndio de maus pensamentos.

O carro partiu, e aquela gente ficou envolta num mar de duvidas e de fervilhante curiosidade. Os primeiros laivos de intriga, começavam a florescer.
Nessa tarde, e noutras que se seguirão, muita gente passará dissimuladamente à porta do ourives. E não será certamente para comprar ouro…

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