quinta-feira, 23 de maio de 2013

LABIRINTO


 Não sei o que me levou a entrar naquela loja de artigos de pesca. Quase sem saber porquê, dei comigo a comprar uma cana com carreto. Um equipamento vulgaríssimo pelo qual me foram pedidos 160 euros, um preço exorbitante para aquele equipamento e para o meu interesse na pesca, mas inexplicavelmente, comprei-a. De repente lembrei-me que não tinha dinheiro, e pedi ao Sr. da loja para guardar a cana até ao fim do mês. Tratava-se de uma pessoa conhecida, e acedeu de imediato. Continuava sem entender porque comprara uma coisa que não me fazia falta, e nem sequer tinha dinheiro para pagar. Eu próprio fui guardar a cana num canto da loja. Foi quando me apercebi que do mesmo conjunto fazia parte uma enorme quantidade de acessórios que eu nem sabia para que serviam. Sai para a rua, e reparei que estranhamente, trazia comigo alguns acessórios que deveriam ter ficado junto do resto do equipamento, mas não volto para trás. Na rua encontrei um amigo, e por qualquer razão entrei com ele num edifício que conhecia por fora mas nunca lá tinha entrado. Inesperadamente deixo de ver o meu amigo, e encontro-me numa receção sem saber o que lá vou fazer, Reconheço a Senhora que está atrás do balcão, mas ela não deveria estar ali, pois conheço-a de outro local. Ela olha-me com desagrado. É evidente que eu estou ali a mais. Não sei porquê, toco na parede e cai muita caliça no chão. Sinto muitos olhares recriminatórios. Estou bastante desconfortável, e só quero sair dali. Dirigi-me para um corredor que estava em obras, mas tinha uma passagem tão estreita que eu não conseguia passar por ela. Acho que começo a sentir algum temor. Volto para trás e noto que há uma escada. Desço por ela mas também está em obras. Dois operários que eu conheço, sobem a escada transportado uma pedra que me impede de descer. Pergunto pela saída, mas parece que ninguém me ouviu. Tentei encontrar outra saída. Segui por outro corredor e encontrei duas pessoas conhecidas que falavam entre si. Pedi ajuda para sair dali, mas eles só mostraram surpresa pela minha presença. Continuava sem encontrar a saída, e estava com medo. Não sei bem do quê, mas eu sentia que qualquer coisa estranha me estava a acontecer. Como era possível não conseguir sair de um lugar com tanta gente que eu conhecia? Preciso de ajuda, mas ela não vem de lado nenhum. Vejo alguma luz que parece vir da rua. É outro corredor pelo qual eu sigo. O corredor é um autêntico labirinto. Há varias pessoas, mas vêm todas em sentido contrário ao meu e ignoram-me completamente. Sigo a luz que é de facto da rua, mas o corredor já no exterior, termina num muro. Noto que é muito alto, e não consigo entender a minha situação. Entro em pânico e resolvo saltar. É de loucos, mas eu vou mesmo saltar. Só quero sair dali.

Acordo suado, cansado e com palpitações aceleradas. Acordar foi um alívio mas ainda me sinto receoso.
Mas pensando bem, a vida real nem sempre é mais fácil; Vivemos rodeados de gente conhecida, mas quando precisamos encontrar um caminho, poucos estão disponíveis para ajudar.


Aníbal Lopes
Maio/2013

(Imagem meucoraçãonoturno)

Sem comentários:

Enviar um comentário