quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

OS MEUS AMORES

A Rosária era a menina mais bonita daqueles montes, e eu cada vez gostava mais dela, apesar dela não dar por isso. Já não direi o mesmo do "farrusco", um enorme rafeiro que sempre a acompanhava e se mantinha atento a tudo o que envolvia a dona, e que sabe-se lá porquê, nunca gostou de mim.
Todos os dias esperava por ela no caminho da Escola. Quando a via chegar, a minha alegria só era ensombrada pela presença do Galambas, que também gostava dela, que eu bem sabia, e tinha vantagem de ser vizinho dela, estando por isso mais tempo junto dela.
Claro que eu ía logo colocar-me ao lado dela. De um dos lados, porque do outro já estava o Galambas.
Do Porto de Burro até à Farinha Branca, toda a gaiatada brincava e saltava, menos eu e o Galambas, numa marcação surda mas cerrada.
Mas as coisas pareciam correr melhor para o meu lado.Por aquela altura, as nossas mães trabalhavam juntas nos arrozais que se estendiam desde a Barba de Alho e Terra Preta, até ao Carvalhoso, e nós passávamos por lá muito tempo juntos.
Um dia fomos ver a roda gigante movida a água, do moinho do Piança. Era aquela roda que fazia mover as mós da azenha, e aquilo parecia-nos algo de extraordinário, capaz de nos fazer soltar a imaginação, e imaginar coisas fantásticas a partir daquela roda enorme.
Sentados bem juntinhos, contemplamos aquela maravilha durante algum tempo. Depois consegui que ela me acompanhasse até debaixo da ponte ao fundo das Abertas. Nunca tínhamos estado tão juntos e tão sós. Disse-lhe que gostava dela e ela sorriu. Acariciei-lhe o rosto e ela deixou. Tentei algo mais. Talvez um beijo. E teria conseguido não fora o "farrusco" começar a ameaçar-me, rosnando e mostrando uns dentes que eu não estava interessado em conhecer. Aquele era um adversário bem mais temível que o Galambas.
Marcamos novo encontro para outro dia, do qual fiquei ansiosamente à espera.
O dia marcado, foi fatídico para este amor.
Quando cheguei, ela já lá estava. A seu lado o Galambas dividia com ela os pinhões que trouxera. Junto de ambos, o "farrusco" dormia tranquilamente.
Maldito cão. Era ele o culpado do meu fracasso.

1 comentário:

  1. Meu caro, lamento seu azar. Isso é o que se chama, ter um cão a uma perna. lololol!!

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