sábado, 3 de janeiro de 2015

UM PARAÍSO À BEIRA RAIA

Nesta busca dos idílicos recantos recônditos deste nosso chão, dei por mim na margem esquerda do nosso Raia, um pouco acima da ponte na agora zona de pesca desportiva.
Abstenho-me da movimentação piscatória e concentro-me na envolvência natural do local, onde desta vez a ação do homem não destruiu e antes potenciou este altar dos amantes da natureza. Ali tudo parece viver em harmonia, e as aves e animais que ali habitam não só aceitam a presença, como também as dádivas de pequenos peixes dos homens que ali passam horas em luta para capturarem o peixe que de seguida devolvem ao rio. O vento sopra o salgueiral que se move numa dança desordenada e sem fim. A passarada esvoaça chilreando, enquanto uma rã coaxa como que avisando de algum perigo, a lontra que se escapa por entre a mofeda serrada da outra margem. Nos bancos de cimento caiados de branco á sombra do salgueiral, dois jovens apaixonados beijam-se, talvez embalados por aquele ambiente tão propicio ao amor e á união entre o homem e a natureza.
Rousseau disse que a natureza fez o homem feliz, e foi a sociedade que o tornou miserável. Se é assim, talvez o homem devesse investir mais na natureza que na sociedade.
De repente dei por mim embalado nos odores e sons do local. Fechei os olhos e pude sentir tanta coisa inesperada: O sabor da saudade, o cheiro de tempos antigos, o gosto de tantas ausências, a lembrança de erros cometidos e a falta de resposta a perguntas que me embargam a vós.
Volto a abrir os olhos e acho que esta natureza em movimento só pode realmente ser compreendida por quem olha na disposição de ver para além do olhar dos olhos; ver com o olhar do espirito. Pena que nem sempre estejamos disponíveis para tais desprendimentos.
Einstein disse um dia que quando agredida, a natureza não se defende, só se vinga. Significa isto que este local tem sido tratado sem agressões? Acho que sim.

Bom dia Mora.

(Imagem PANORAMIO)


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