sábado, 10 de dezembro de 2011

A ABLETE PERDIDA


“ Está uma manhã soalheira na Barragem de Montargil. O lençol de água atingiu o seu limite máximo e, ao longe, confunde-se com o azul do céu de tal forma que a Carpa Marta sente-se levitar no seu leito pouco profundo. A Marta é uma Carpa Espelho, muito corajosa, combativa, coberta de grandes escamas e dois barbilhos. Ontem à noite quando adormeceu já o sol ia alto. Ela e o seu compadre Bernardo.

O Bernardo é um Barbo-Comum grande nadador de águas profundas. Ambos procuraram a Arlete toda a noite, uma Ablete que escorregou numa mancha de óleo deixada por um barco e que terá caído no descarregador de água da Barragem.

Depois de combinadas as buscas entre as várias comunidades, o Lagostim Serafim, um super campeão de aqualto, pôs-se a caminho e decidiu procurar por sua conta e risco para lá da descarga de água, para lá do paredão já na Ribeira do Sor. Ainda mal tinha saído da água e já D. Lontra, que só gosta de sair à noite, estava de volta para a sua toca que ficava nas raízes de um choupo centenário. Trazia na boca um peixe. Era a Arlete.

O Lagostim Serafim reconheceu-a logo. Durante algum tempo receou o pior. Mas Dona Lontra, em vez de entrar nas suas infindáveis galerias, transportou a Arlete cuidadosamente até à beira de água!

O Senhor Alfaiate que andava por ali a sobrevoar as margens correu a avisar a mãe Ablete. Num ápice, bogas, percas, achegas, carpas, abletes, barbos, lagostins, rãs e até algumas cobras de água, vieram saudar a pequena Ablete.

A Arlete aprendeu duas grandes lições: ter cuidado com o derrame de combustíveis e não nadar fora de pé, longe da vista dos pais.”

(um conto de Nuno Miguel Prates, escritor e cronista Montargilense)

Sem comentários:

Enviar um comentário