sábado, 13 de dezembro de 2014

MORA É UM JARDIM

Esta semana fui por duas vezes passear ao nosso fantástico jardim. Nosso de todos nós, pela colaboração exemplar entre a SC da Misericórdia, proprietária do local, e o Município, entidade cuidadora daquele belo espaço.
Além da beleza natural que nos rodeia por todos os lados, qual ilha de beleza idílica que nem este outono invernoso consegue esconder, é extraordinário ouvir algumas histórias de vida, vindas dos idosos que por ali se juntam e recordam os seus tempos de radiosa juventude. Fiquei por ali a ouvi-los entre si, falarem do seu tempo de outros tempos, que não deste que praticamente os ignora. De facto a idade trás muita sabedoria e é pena que haja tão poucos interessados em aproveitar aqueles compêndios de experiência de vida, que tanto poderia ajudar os que acham que nunca vão envelhecer e jamais morrerão.
Mas também crianças por ali deambulam nas suas brincadeiras infindáveis, e que de vez enquanto se revoltam contra a mãe que teima em refrear as suas correrias, tudo em nome da roupa que não se quer suja, como se isso fizesse parte das preocupações das crianças.
Tudo isto me leva a pensar que de facto naquele pequeno espaço e ao mesmo tempo, estão reunidas as gerações que representam o princípio e o fim do ciclo que é a nossa passagem transitória por este minúsculo planeta perdido entre planetas, numa galáxia entre galáxias.
Entre estas duas gerações desenrola-se toda a azáfama dos que têm por dever cuidar de ambas, ao mesmo tempo que procuram eles próprios sobreviver perante um sistema que se abate sobre eles e sobre as suas liberdades, criando-lhes barreiras, em cujas subidas se vão esgotando as suas forças.
Mas voltando ao jardim, gosto de pensar que a presença tranquila e destemida da cegonha “Zulmira” no meio de toda esta movida, possa ser um sinal de que os homens, novos e velhos, e os outros seres viventes, ainda vão ocupar pacificamente o mesmo espaço, então tornado num mundo muito melhor.
Até lá, teremos de manter uma esperança ativa, sabendo que se nos recusam a felicidade, teremos que conquista-la.


Bom dia Mora.

4 comentários:

  1. Muito bem Aníbal, veja se gosta deste pequeno texto sobre o Jardim.
    cpmts

    Jardim Público de Mora
    Estou sentado na esplanada do Jardim Público
    de Mora,
    bebo café na sombra fresca e verde das altas árvores
    que quase tocam o céu muito azul não há nuvens ou vestígios delas,
    é um dia quente de verão.
    A esplanada vive rodeada de árvores frondosas e é arejada
    pela brisa fresca que desce das arribas que a circundam,
    o local ideal para passar a tarde.
    Meia dúzia de mesas e cadeiras preenchem o rectângulo de terra calcada
    com lajes de pedras quase minúsculas
    e pequenos rectângulos de cimento tudo numa geometria calculada.
    Um coto do que foi um eucalipto serve, por vezes, de banco,
    ao lado está o parque infantil moderno e cercado.
    Alongo o olhar:
    nas cercanias do bar e do pequeno parque existem
    áceres olaias cana-da-índia ameixeiras de jardim cedros arbustos de várias espécies
    e um plátano gigantesco que toca o céu.
    Uma linha de água, ladeada por pedras e flores variadas,
    corre em direcção ao grande lago,
    frequentado por um casal de cisnes pretos de bico vermelho com seus filhotes,
    que todos os dias, pelo fim da tarde,
    se passeiam pelo espaço relvado bicando a relva numa indolência
    que é só deles e refastelando-se à sombra fresca e àlgida.
    Vivem aqui e são alimentados e acarinhados pelos tratadores.
    Por debaixo do plátano gigantesco está um banco
    de meia circunferência construído em cimento
    que a sombra nunca abandona. O plátano transpira saúde
    há mais de sete décadas,
    impressiona a sua altura e folhagem de um
    verde forte e maduro.
    Na minha frente
    a alguns metros de distância
    e carregado de flores rosadas está um aloendro
    aberto como um leque,
    ao lado uma fonte, que corre todo o ano
    sombreada por uma
    latada de glicínia septuagenária,
    alongo mais o olhar:
    e para lá de tudo isto, por entre os intervalos das árvores,
    vejo algumas faixas cor de areia,
    que são manchas da comprida várzea
    que acompanha o percurso do rio Raia,
    onde outrora semeavam arroz.Nesta altura do ano um vasto tapete verde escuro,
    vivo e geométrico
    preenchia o olhar
    na margem sul do rio.
    Reduzo-me à esplanada:
    na mesa ao lado esquerdo de onde
    estou sentado,
    estão quatro idosos petiscando e bebericando copos de vinho,
    e conversando animadamente sobre os tempos de outrora,
    um passado não muito longo
    em que trabalhavam a terra que os alimentava.
    Agora vivem o merecido descanso
    mas inquietos e preocupados
    com a situação caótica do país
    e completamente desiludidos.
    A voz deles é suplantada e abafada
    por um grupo de jovens que chega senta-se
    e pede caracóis e cerveja.
    Bebem com euforia esbracejam,
    interrompem-se uns aos outros,
    os caracóis estão excelentes dizem.
    Enquanto tudo isto acontece Zulmira vai-se passeando
    vaidosa e altiva,
    por entre mesas e cadeiras,
    afasta-se por poucos minutos depois regressa.
    Zulmira é uma cegonha que visita este jardim quase diariamente,
    odeia cães e pessoas atrevidas,
    quando lhe tiram fotografias à distancia ela fica mais vaidosa.
    Mergulho na memória:
    há mais de vinte anos atrás,
    no verão
    todos os fins de semana à noite
    este jardim era animado,
    com grupos de música popular
    folclore teatro e concertos de música rock para jovens.
    Este espaço agradável enchia-se
    de gente para o divertimento
    e a farra.
    Regresso:
    tudo isto acabou por decisão política
    da autarquia
    que deixou de ver este espaço,
    como uma mais valia culturale o lançou para o vazio.
    Este jardim é Patrimônio da Santa Casa da Misericórdia,
    é um recanto precioso,
    quase luxuriante
    desta vila
    e está localizado a dois ou três minutos
    do centro.
    Julho/13

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  2. Meu caro, claro que gosto do seu texto.Ele mostra bem o seu gosto pelo nosso jardim, e por vezes nota-se poesia nas suas palavras. É também evidente alguma critica. É sua legitima opinião, que eu respeito, esteja ou não de acordo. Abraço.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Está certo caro Aníbal. Cada um tem direito à sua opinião, é isso a Liberdade de existir.
    Quanto ao pequeno e humilde texto, não foi publicado como foi enviado para você, tem os seus espaços, que são o ritmo da sua respiração e do seu caminhar. O texto tem memória, tem vida, tem sangue, por isso tem o seu ritmo. Agradeço a sua publicação e, a sua opinião.
    fique bem

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