Nesta busca dos idílicos
recantos recônditos deste nosso chão, dei por mim na margem esquerda do nosso
Raia, um pouco acima da ponte na agora zona de pesca desportiva.
Abstenho-me da movimentação
piscatória e concentro-me na envolvência natural do local, onde desta vez a
ação do homem não destruiu e antes potenciou este altar dos amantes da natureza.
Ali tudo parece viver em harmonia, e as aves e animais que ali habitam não só
aceitam a presença, como também as dádivas de pequenos peixes dos homens que
ali passam horas em luta para capturarem o peixe que de seguida devolvem ao
rio. O vento sopra o salgueiral que se move numa dança desordenada e sem fim. A
passarada esvoaça chilreando, enquanto uma rã coaxa como que avisando de algum
perigo, a lontra que se escapa por entre a mofeda serrada da outra margem. Nos
bancos de cimento caiados de branco á sombra do salgueiral, dois jovens
apaixonados beijam-se, talvez embalados por aquele ambiente tão propicio ao
amor e á união entre o homem e a natureza.
Rousseau disse que a natureza
fez o homem feliz, e foi a sociedade que o tornou miserável. Se é assim, talvez
o homem devesse investir mais na natureza que na sociedade.
De repente dei por mim
embalado nos odores e sons do local. Fechei os olhos e pude sentir tanta coisa
inesperada: O sabor da saudade, o cheiro de tempos antigos, o gosto de tantas
ausências, a lembrança de erros cometidos e a falta de resposta a perguntas que
me embargam a vós.
Volto a abrir os olhos e acho
que esta natureza em movimento só pode realmente ser compreendida por quem olha
na disposição de ver para além do olhar dos olhos; ver com o olhar do espirito.
Pena que nem sempre estejamos disponíveis para tais desprendimentos.
Einstein disse um dia que
quando agredida, a natureza não se defende, só se vinga. Significa isto que
este local tem sido tratado sem agressões? Acho que sim.
Bom dia Mora.
(Imagem PANORAMIO)
(Imagem PANORAMIO)
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