Decididamente hoje perdi a
cabeça, Ao virar da ultima badalada das oito da matina, já eu punha os
calcantes fora de casa, e a passo marcado e apressado dei inicio á saudável
intenção de fazer uma caminhada matinal, mas daquelas de longo curso e que me
fizesse perder algumas calorias, fruto da minha desleixada educação alimentar,
mesmo sabendo que tudo o que é bom é ilegal, imoral ou engorda, como dizia uma
canção espanhola dos meus tempos de Sevilha. Mas importante mesmo é
desenferrujar as velhas dobradiças deste esqueleto obsoleto que já me dá mais
chatices que as que eu gostaria.
Saio em direção à rotunda do colégio,
e já fora dos terrenos da che Morense ensaio uns passos de corrida sob o olhar
sorridente de algumas pessoas que a essa hora se encaminham para o cemitério
para cuidar das campas dos seus ente queridos. Rapidamente desisto de tão
louvável esforço, opção forçada por um súbito cansaço, aliás já previsível.
Pessoa amiga acusa-me de “fracote”, ao que eu respondo que não se trata nada
disso, mas apenas de a estratégia que eu escolhi na ocasião. Claro que não o
convenci, mas pelo menos não dei parte de fraco.
Tomo a direção da rotunda sul,
que bem poderia chamar-se de rotunda da unidade concelhia, já que na estrutura
ali existente estão representadas todas as freguesias do concelho.
Aí chegado tomo a direção de
Brotas. Um pouco mais à frente e do lado direito, deparo-me com um numeroso
grupo de burros, mas burros mesmo. Aproximo-me e meto-me com eles. Corto uns
ramos de acácia e ofereço-lhes como se de um manjar se tratasse. Eles olham-me
longamente sem qualquer reação. Pelo seu olhar, acho que estou a fazer figura
de parvo. Provavelmente ali o burro sou eu. Mas atiro-lhes com o ramo de
acácia, eles são sete ou oito, mas nenhum se move. Desisto e sigo o meu
caminho.
Várias pessoas conhecidas
passam por mim no conforto dos seus carros Alguns apitam outros gritam “oh pá,
isso é para correr. A passo lento não vás lá.” Pois não, mas não ligo às
provocações, ponho um olhar de superioridade e escondo a vontade de voltar para
trás. Mas assim que eles desaparecem no horizonte, volto mesmo para trás. Volto
a aproximar-me dos burros, que talvez com medo que lhes oferecesse mais
acácias, não esperam por mim e abandonam o local.
Continuo a fazer o caminho de
regresso já com passo mais lento, e opto por passar pelo novinho em folha
Bairro das Sesmarias, o Bairro mais jovem da cidade. Está bonito o bairro, e
cada vez mais composto. Chegado ao Pavilhão Desportivo, viro à direita e tomo o
trilho inicial. A ideia é terminar o meu passeio/caminhada, na zona de lazer da
Che Morense. Ali chegado, tenho à minha disposição um verdadeiro ginásio ao ar
livre. Faço alguns exercícios e dou por terminado a minha aventura matinal.
Chego a casa cansado e com os pés gelados. Acho que vou acender a lareira, pese
embora a manhã estar no seu inicio. O gato mete-se debaixo dos meus pés e mia
desesperadamente, como se não comesse há quinze dias. Antes do lume vou tratar
dele.
Para um verdadeiro aldeão como
eu, para quem não há nada melhor que a terra, foi um bom inicio de manhã.
Bom dia Mora.
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