Esta semana fui por duas vezes
passear ao nosso fantástico jardim. Nosso de todos nós, pela colaboração
exemplar entre a SC da Misericórdia, proprietária do local, e o Município,
entidade cuidadora daquele belo espaço.
Além da beleza natural que nos
rodeia por todos os lados, qual ilha de beleza idílica que nem este outono
invernoso consegue esconder, é extraordinário ouvir algumas histórias de vida,
vindas dos idosos que por ali se juntam e recordam os seus tempos de radiosa
juventude. Fiquei por ali a ouvi-los entre si, falarem do seu tempo de outros
tempos, que não deste que praticamente os ignora. De facto a idade trás muita
sabedoria e é pena que haja tão poucos interessados em aproveitar aqueles
compêndios de experiência de vida, que tanto poderia ajudar os que acham que
nunca vão envelhecer e jamais morrerão.
Mas também crianças por ali
deambulam nas suas brincadeiras infindáveis, e que de vez enquanto se revoltam
contra a mãe que teima em refrear as suas correrias, tudo em nome da roupa que
não se quer suja, como se isso fizesse parte das preocupações das crianças.
Tudo isto me leva a pensar que
de facto naquele pequeno espaço e ao mesmo tempo, estão reunidas as gerações
que representam o princípio e o fim do ciclo que é a nossa passagem transitória
por este minúsculo planeta perdido entre planetas, numa galáxia entre galáxias.
Entre estas duas gerações
desenrola-se toda a azáfama dos que têm por dever cuidar de ambas, ao mesmo
tempo que procuram eles próprios sobreviver perante um sistema que se abate
sobre eles e sobre as suas liberdades, criando-lhes barreiras, em cujas subidas
se vão esgotando as suas forças.
Mas voltando ao jardim, gosto
de pensar que a presença tranquila e destemida da cegonha “Zulmira” no meio de
toda esta movida, possa ser um sinal de que os homens, novos e velhos, e os
outros seres viventes, ainda vão ocupar pacificamente o mesmo espaço, então
tornado num mundo muito melhor.
Até lá, teremos de manter uma
esperança ativa, sabendo que se nos recusam a felicidade, teremos que conquista-la.
Bom dia Mora.
Muito bem Aníbal, veja se gosta deste pequeno texto sobre o Jardim.
ResponderEliminarcpmts
Jardim Público de Mora
Estou sentado na esplanada do Jardim Público
de Mora,
bebo café na sombra fresca e verde das altas árvores
que quase tocam o céu muito azul não há nuvens ou vestígios delas,
é um dia quente de verão.
A esplanada vive rodeada de árvores frondosas e é arejada
pela brisa fresca que desce das arribas que a circundam,
o local ideal para passar a tarde.
Meia dúzia de mesas e cadeiras preenchem o rectângulo de terra calcada
com lajes de pedras quase minúsculas
e pequenos rectângulos de cimento tudo numa geometria calculada.
Um coto do que foi um eucalipto serve, por vezes, de banco,
ao lado está o parque infantil moderno e cercado.
Alongo o olhar:
nas cercanias do bar e do pequeno parque existem
áceres olaias cana-da-índia ameixeiras de jardim cedros arbustos de várias espécies
e um plátano gigantesco que toca o céu.
Uma linha de água, ladeada por pedras e flores variadas,
corre em direcção ao grande lago,
frequentado por um casal de cisnes pretos de bico vermelho com seus filhotes,
que todos os dias, pelo fim da tarde,
se passeiam pelo espaço relvado bicando a relva numa indolência
que é só deles e refastelando-se à sombra fresca e àlgida.
Vivem aqui e são alimentados e acarinhados pelos tratadores.
Por debaixo do plátano gigantesco está um banco
de meia circunferência construído em cimento
que a sombra nunca abandona. O plátano transpira saúde
há mais de sete décadas,
impressiona a sua altura e folhagem de um
verde forte e maduro.
Na minha frente
a alguns metros de distância
e carregado de flores rosadas está um aloendro
aberto como um leque,
ao lado uma fonte, que corre todo o ano
sombreada por uma
latada de glicínia septuagenária,
alongo mais o olhar:
e para lá de tudo isto, por entre os intervalos das árvores,
vejo algumas faixas cor de areia,
que são manchas da comprida várzea
que acompanha o percurso do rio Raia,
onde outrora semeavam arroz.Nesta altura do ano um vasto tapete verde escuro,
vivo e geométrico
preenchia o olhar
na margem sul do rio.
Reduzo-me à esplanada:
na mesa ao lado esquerdo de onde
estou sentado,
estão quatro idosos petiscando e bebericando copos de vinho,
e conversando animadamente sobre os tempos de outrora,
um passado não muito longo
em que trabalhavam a terra que os alimentava.
Agora vivem o merecido descanso
mas inquietos e preocupados
com a situação caótica do país
e completamente desiludidos.
A voz deles é suplantada e abafada
por um grupo de jovens que chega senta-se
e pede caracóis e cerveja.
Bebem com euforia esbracejam,
interrompem-se uns aos outros,
os caracóis estão excelentes dizem.
Enquanto tudo isto acontece Zulmira vai-se passeando
vaidosa e altiva,
por entre mesas e cadeiras,
afasta-se por poucos minutos depois regressa.
Zulmira é uma cegonha que visita este jardim quase diariamente,
odeia cães e pessoas atrevidas,
quando lhe tiram fotografias à distancia ela fica mais vaidosa.
Mergulho na memória:
há mais de vinte anos atrás,
no verão
todos os fins de semana à noite
este jardim era animado,
com grupos de música popular
folclore teatro e concertos de música rock para jovens.
Este espaço agradável enchia-se
de gente para o divertimento
e a farra.
Regresso:
tudo isto acabou por decisão política
da autarquia
que deixou de ver este espaço,
como uma mais valia culturale o lançou para o vazio.
Este jardim é Patrimônio da Santa Casa da Misericórdia,
é um recanto precioso,
quase luxuriante
desta vila
e está localizado a dois ou três minutos
do centro.
Julho/13
Meu caro, claro que gosto do seu texto.Ele mostra bem o seu gosto pelo nosso jardim, e por vezes nota-se poesia nas suas palavras. É também evidente alguma critica. É sua legitima opinião, que eu respeito, esteja ou não de acordo. Abraço.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEstá certo caro Aníbal. Cada um tem direito à sua opinião, é isso a Liberdade de existir.
ResponderEliminarQuanto ao pequeno e humilde texto, não foi publicado como foi enviado para você, tem os seus espaços, que são o ritmo da sua respiração e do seu caminhar. O texto tem memória, tem vida, tem sangue, por isso tem o seu ritmo. Agradeço a sua publicação e, a sua opinião.
fique bem