O VELHO DO QUADRO
Aquela galeria estava cheia de quadros;
Castelos, pontes, barcos, bailarinas e até mulheres remi-nuas, entre
outros de formas estranhas que eu não entendo. Mas um deles, meio
escondido a um canto, representava um velho com evidentes sinais de
sofrimento estampados no rosto. Reparei que ninguém reparava no
quadro do velho sofrido. As pessoas comentavam e olhavam com ar
entendido. Mas o velho sofrido, solitário, abandonado e encarcerado
entre as ripas daquele quadro, apenas merecia indiferença e
desinteresse. Pus-me então a pensar que talvez a velhice não seja
arte que mereça a atenção daqueles intelectuais entendidos na
ciência de representar através da pintura. Ou será alguma
hipocrisia, egoísmo ou mesmo algum complexo de culpa que os obriga a
desviar o olhar? Aquela gente tão plena de sabedoria sobre tela, não
tem velhos na família? Ou simplesmente não pensam chegar a velhos?.
Na verdade, com todo este alheamento,
com toda esta indiferença chega a parecer-me que eles não sabem que
naquela galeria onde entraram como entendidos, eles apenas se
movimentam como sonâmbulos, espantalhos a tentar afastar os seus
próprios fantasmas, fazendo-se passar por algo que lhes dê a
sensação de que estão vivos mas não velhos.
Aníbal Lopes
Jan/16
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