Conta-se que num longínquo país, havia um povo que tinha
o costume de quando os seus velhos se tornavam inúteis, os seus filhos os levar
para a montanha, onde os deixavam apenas com uma manta e um pão. Os idosos ali
ficavam á espera da morte, que por certo não demoraria muito.
Diz a lenda que certo dia, um idoso ao ser deixado na
montanha, rasgou a manta ao meio, dando metade ao filho, dizendo: “Guarda-a
para quando chegar a tua vez”.
A moral da história é por demais evidente, mas a montanha
continua a existir, embora se apresente de forma diferente. Certamente menos
cruel, mas igualmente injusta.
O que sentirá o homem ou a mulher, que a seu tempo
construiu uma casa, constituiu uma família, cavou a sua horta para alimentar os
filhos, e gastou toda a sua energia para proteger a sua família, e que de
repente se vê numa casa que não é a sua, e rodeado de gente que não são a sua
família, e que lhe impõem regras que limitam a sua liberdade? Não têm frio, não
têm fome, tomam os medicamentos a horas e estão sempre limpos. Mas se isso é
tão bom, porque sofrem de solidão e estão sempre tristes?
É claro que estas são as regras que esta sociedade que
construímos nos impõe. É claro que os filhos não podem perder os seus empregos
para cuidar dos pais, porque senão não sobreviveriam na tal sociedade
competitiva e consumista que sabe-se lá quem, nos impos.
Mas será este o modelo mais justo e mais feliz de viver
estas pequenas férias que a morte nos dá? Não será tempo de repensar tudo isto,
e encontrar uma forma mais humanizada de celebrar a nossa passagem pelo mundo
terreno?
Cada um de nós, já recebeu a sua metade da manta. Resta
decidir o que fazer com ela.
AL
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