Todos nós temos histórias incríveis para contar. O
problema é encontrar quem as ache interessantes, e esteja disposto a ouvi-las.
Não deixa de ser curioso, que só depois de, como costumo
dizer, dobrar o Bojador dos 50, é que nos vem a vontade de recordar.
Há ainda outra suma curiosidade: Podemos não nos lembrar
do almoço do dia anterior, mas lembramo-nos de coisas passadas à “séculos”,
mesmo quando estiveram esquecidas durante décadas.
Hoje vou contar uma pequena história que à época do seu
acontecimento, me pareceu tremendamente humilhante, a tal ponto que a escondi
muito tempo.
Acho que foi no ano em que entrei para a escola.
Frequentemente eu ia de minha casa para a casa da minha avó. Pois na capoeira
dos meus avós, havia um diabo à solta que infernizava as minhas chegadas perto
do seu harém. Exactamente um pequeno Cócó, que para quem não sabe é um galo
minúsculo, mas com a mania de que o Mundo lhe pertence. Pois bem, este Cócó,
era ainda pior, e resolveu que eu era “persona non grata” no seu território.
Assim que me avistava, corria para mim com a clara intenção de me engolir. Na
verdade, ganhei-lhe tal medo, que sempre que chegava ao cabeço, gritava pela
minha avó, que logo punha o galarispo em respeito.
Só que um dia, e há sempre um dia, entendi que era
vergonhoso ter medo de um animal 50 vezes mais pequeno que eu. Tomei-me de
brios e decidi: Hoje não chamo ninguém, nem vou ter medo do maldito
mini-galarô, e se for preciso, até lhe dou umas arrochadas.
Preparei-me para enfrentar o monstro, enquanto tentava
convencer-me a mim mesmo de que não tinha medo. Avancei corajosamente encosta
abaixo ao encontro do perigo, não sem antes me armar com um ramalho de pinho,
para o que desse e viesse.
Assim que me viu, o perigoso predador avançou para mim, e
eu senti imediatamente a minha coragem a dar de frosques, deixando-me sozinho
diante da fera.
O meu medo, mais a minha força, levaram-me a descarregar
sobre o inimigo, o ramalho de pinho que trazia. Por sorte ou azar, o meu ataque
foi fulminante. Atingido em cheio, o pobre do galarispo caiu para o lado sem
mais se levantar. Era a minha glória. Vencera o inimigo e provara a quem duvidasse, que não era um qualquer pelintra de penas, que me metia medo.
Apercebendo-se do barulho, a minha avó correu para o
local, e ao aperceber-se da morte do seu rei da capoeira, e naturalmente de que
era o seu assassino, amandou-me com duas chapadas que até fiquei de lado.
Lá se foi toda a minha glória, caída em desgraça ás mãos
calejadas da minha avó. Afinal ser um herói não era assim tão glorificante.
Ganhar uma guerra, ás vezes tem custos que é melhor esquecer.
Como forma de vingança, nunca mais gostei de Cócós.
(Foto Humor xxl.com)
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