quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SER DE SOMENOS!

A comunicação social no Alentejo e no País.

António Murteira
Autor. Editor e Diretor Executivo da Revista Alentejo.
Engenheiro Técnico Agrário

A generalidade da comunicação social privada, regional e nacional, é

bem o retrato dos políticos, dos capitalistas e dos banqueiros que
mandam no país e nos arruinaram: qualquer coisa de somenos!
Somenos no sentido em que a palavra significa o que “tem pouco ou
nenhum valor”, o “que é medíocre, rasca, ordinário, reles”.
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências
de Lisboa.
Para essa comunicação social a maioria dos portugueses, que são os
trabalhadores, os jovens, os reformados, pouco contam.
São entendidos como meros “recursos”, uma espécie de bestas de
trabalho, que terão de ser sempre mais espremidos para proporcionarem
lucros crescentes aos capitalistas, aos banqueiros, aos grandes
proprietários de terras..
Se sofrem ou são lançados na pobreza, se ficam sem trabalho, se o
banco lhes fica com a casa, o que se passa nas suas vidas e no seu
mundo, as suas ideias, propostas, e reivindicações, não merecem ser
notícia.
Em contrapartida todas as ideias, propostas, reivindicações,
chico-espertezas dos capitalistas e da alta gatunagem, são ditas e
reditas nessas televisões, rádios e jornais.

Ora, os trabalhadores e os jovens, em todos os países, são os

principais produtores de riqueza e garante da dignidade.
É sabido que o capital, só por si, não gera riqueza real. Não semeia
um campo ou vai à pesca ao mar. Não produz uma batata, um borrego, um
automóvel, um computador, um medicamento. Não constrói uma casa, uma
ponte ou uma estrada. Não escreve um livro ou compõe uma música. Quem
produz esses bens essenciais à vida são os trabalhadores, os técnicos,
os cientistas. Quem mantêm a segurança são os agentes policiais, quem
assegura a defesa do país são os militares.

Experimentem os capitalistas e os banqueiros colocar um milhão de

euros no alto de uma torre ou no fundo de um cofre forte. Vão lá daí a
seis meses e verifiquem se esse capital, só por si, se reproduziu!
Pelas razões apontadas, e pela pluralidade que a Constituição e a lei
vulgar acolhe, a linha editorial e a prática jornalística que esconda
ou desvalorize as ideias, as acções e as propostas de quem trabalha e
produz riqueza, não pode ser considerada senão como uma linha
editorial e uma prática jornalística de somenos: “medíocre, rasca,
ordinário, reles”, “de pouco ou nenhum valor”.
Mas porque estou eu tão indignado logo pela manhã de uma tão aprazível
sexta-feira de outono?
É que, amanhã, trabalhadores e jovens portugueses vão manifestar-se em
Lisboa e no Porto. Vão manifestar-se em defesa da dignidade do povo
português e de Portugal.
E como procede a generalidade da comunicação social?
No Alentejo, jornais regionais como o Diário do Sul (30/9), o Registo
(29/9) ou o Diário do Alentejo (30/9), nas edições que antecedem as
jornadas em Lisboa e no Porto, nem uma entrevista aos dirigentes
sindicais ou a trabalhadores e jovens, nem uma palavra sobre as
dignificantes e patrióticas jornadas nacionais dos trabalhadores.
Dos jornais regionais, que consultei, apenas o Alentejo Popular
anuncia as manifestações de dia 1 de Outubro em Lisboa e no Porto.
Os principais jornais nacionais, nas capas, nem uma palavra (no
interior não sei). O Público nem na capa nem no interior faz a mínima
alusão às jornadas de 1 de Outubro.
A minha conclusão e indignação: é preciso ser-se de somenos
(“mediocre, reles”) para assim proceder!

Pois bem, amanhã lá estarei, em Lisboa, orgulhosamente, com

trabalhadores e jovens do meu país! Com militares e agentes de
segurança do meu país! Com reformados do meu país! Em defesa da
dignidade do meu país!

Évora 30 de Setembro de 2011



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