sábado, 18 de abril de 2015

LEMBRANÇAS COM SAUDADE

Ás vezes da-me nisto de passar para o papel algumas das minhas divagações pelo interior das minhas memórias. Gostava de ser como aquelas pessoas que nunca olham para trás, que do passado tratam os museus e para a frente é que é caminho. Mas não sou assim e não me consigo libertar deste saudosismo, como se tivesse deixado algo lá atrás por resolver.
Claro que o futuro me desperta alguma ansiedade , pois ainda tenho muitas coisas que me esperam, e do alto dos meus 62, ainda avisto muito caminho para percorrer. Mas não consigo cortar esta ligação umbilical aos tempos que ficaram para trás, nem fechar a caixinha das lembranças. Talvez porque tenho dificuldade em aceitar esta vida stressante que nos impõe regras e leis que nos empurram para guetos de rede e arame farpado e nos proíbe de por pé fora da estrada. Estou farto de convenções da treta, sempre a vigiar e controlar o meu comportamento, a julgar-me e a colocar-me etiquetas.
Tenho saudades do tempo em que o fato sujo pelo trabalho não incomodava ninguém, e era sinónimo que se fazia pela vida. Tenho saudades do tempo em que todos nós era-mos mais amigos, mais leais e solidários e nos protegíamos uns aos outros. Tenho saudades do meu tempo de menino, das calças rotas e joelhos esfolados, das sapatilhas desfeitas de tanto travar a bicicleta que era de um, mas todos usavam, de subir ás árvores e banhar-me todo nu na presa de rega, de soltar as galinhas mas ter que as guardar, de mudar a cabra para melhores ervados e dar de comer ao porco. Tenho saudades de fazer os trabalhos da escola à luz do candeeiro a petróleo, dos serões em casa dos vizinhos, e tenho uma enorme saudade dos amigos que nunca mais vi.
Tudo isto visto à luz dos dias de hoje, é uma enorme patetice. Mas alguém pode garantir que as coisas que vivemos à luz dos dias de hoje, mais que uma patetice, não são um drama?