sábado, 27 de dezembro de 2014

RECUPERAÇÃO DA ANTIGA ESTAÇÃO, AVANÇA

Costuma dizer-se que quem não sabe de onde vem, nunca saberá para onde vai. Deve ser por isso que hoje me volto para o passado, mas um passado tornado presente.
Sem luzes natalícias nem ornamentações brilhantes, antes rodeada de máquinas em manobras e montões de terra de sobejo, a obra de recuperação da antiga estação da CP, mostra já uma face com evidentes sinais de nova vida, cada vez com menos cicatrizes nas paredes em renovação. Madeiras e telhados em avançado estado de prontidão, são já amostra do que será este pedaço de história viva recuperada, e montra do que no seu tempo foi um pedaço de modernidade. É essa memória que está de volta.
Cada vez são menos, mas por certo ainda muitos, os que se lembram da estação com vida própria, carruagens espalhadas pelas linhas que por ali se estendiam ao lado umas das outras, e até por certo, das viagens a Évora e das celebres paragens em Pavia, onde o cobrador, ele próprio, desmontava para fechar a passagem de nível, e que depois voltava a abrir após a passagem do comboio. Conta-se até, que certo dia numa dessas manobras o maquinista se esqueceu do cobrador, que simplesmente ficou em terra. Oxalá a história seja verdadeira, pois a história quer-se autentica.
Em breve a Estação recuperará o seu estatuto de “pessoa” importante, sem viajantes ao som do trofáfáfe, trofáfáfe, trofáfáfe, mas com viagem marcada para outros conhecimentos.
Ali mesmo ao lado, outras formas de viver o passado, vão ganhando vida através de uma estrutura que eu e outros esperamos para ver como vai ser tratado o nosso passado ancestral, visto à luz da modernidade e das suas tecnologias. Coisa estranha, isto de ir ao passado através dos olhos da modernidade.
Seja como for, acredito que esta terra e esta gente, pelo menos no que concerne ao que de si depende, vai tentando não perder o comboio (e este é metafórico) do futuro, pese embora todas as dificuldades que lhes surgem pela frente, num país onde quem manda. manda distribui o mal pelas aldeias, mas guarda o remédio para as conveniências da sua tribo.

“O mundo é uma bola de algodão que está na nossa mão fazer voar”

Feliz ano novo Mora.


sábado, 20 de dezembro de 2014

ESTE NATAL QUE NOS É IMPOSTO

Confesso que este sábado saí propositadamente para tentar encontrar inspiração para dar continuidade a estas minhas cronicas de sábado, mesmo sem saber se alguém se interessa por elas, e se dá ao trabalho de lê-las. Na verdade julgo que interessante mesmo é eu escrever para mim, exercitar o cérebro, pôr os neurónios a fazer ginástica, e ir alinhando algumas ideias, pois pensar e ter ideias é a melhor forma de estar vivo.
Por acaso ou não tanto, talvez de forma maquinal ou instintiva, lá fui eu a caminho da praça, por esta altura vestida de cores e motivos natalícios. Só que desta vez em vez de me focar na sua beleza natural permanente, e cénica de ocasião, dei comigo invadido de pensamentos que me levaram para a temática do Natal consumista e para as campanhas solidarias desta ocasião, como se os valores natalícios fossem letra morta no resto do ano.
É então que me questiono sobre este Natal tão sedutor, que apela à solidariedade ao mesmo tempo que me tenta convencer através de ornamentação brilhante e da manipulação social, a gastar o subsídio de Natal em supérfluas compras embrulhadas em papel de seda alusivo à época, em vez de o guardar para a hora de pagar o seguro da casa, do carro, do selo, do IMI e de outras obrigações que tais, como se fosse assim que se une uma família e se leva ao dialogo e ao entendimento.
A dádiva da solidariedade parece-me ser outra coisa, e fico sempre com a ideia de que este apregoado espírito de Natal, acaba sempre por servir mais o negocio do consumo desenfreado, que a causa dos mais precisados. Julgo que se deveria repensar o que é realmente importante no que diz respeito aos dignos valores morais da humanidade.
Mas tento afastar estas dúvidas que me assaltam, e concluo que acabei por não encontrar a tal inspiração que procurava.
Volto pensativo a casa, na certeza que neste Natal terei a minha consoada habitual, e tudo continuará na mesma, até ao dia em que nos ponhamos todos de acordo para um Natal todos os dias do ano.
Feliz Natal Mora.

sábado, 13 de dezembro de 2014

MORA É UM JARDIM

Esta semana fui por duas vezes passear ao nosso fantástico jardim. Nosso de todos nós, pela colaboração exemplar entre a SC da Misericórdia, proprietária do local, e o Município, entidade cuidadora daquele belo espaço.
Além da beleza natural que nos rodeia por todos os lados, qual ilha de beleza idílica que nem este outono invernoso consegue esconder, é extraordinário ouvir algumas histórias de vida, vindas dos idosos que por ali se juntam e recordam os seus tempos de radiosa juventude. Fiquei por ali a ouvi-los entre si, falarem do seu tempo de outros tempos, que não deste que praticamente os ignora. De facto a idade trás muita sabedoria e é pena que haja tão poucos interessados em aproveitar aqueles compêndios de experiência de vida, que tanto poderia ajudar os que acham que nunca vão envelhecer e jamais morrerão.
Mas também crianças por ali deambulam nas suas brincadeiras infindáveis, e que de vez enquanto se revoltam contra a mãe que teima em refrear as suas correrias, tudo em nome da roupa que não se quer suja, como se isso fizesse parte das preocupações das crianças.
Tudo isto me leva a pensar que de facto naquele pequeno espaço e ao mesmo tempo, estão reunidas as gerações que representam o princípio e o fim do ciclo que é a nossa passagem transitória por este minúsculo planeta perdido entre planetas, numa galáxia entre galáxias.
Entre estas duas gerações desenrola-se toda a azáfama dos que têm por dever cuidar de ambas, ao mesmo tempo que procuram eles próprios sobreviver perante um sistema que se abate sobre eles e sobre as suas liberdades, criando-lhes barreiras, em cujas subidas se vão esgotando as suas forças.
Mas voltando ao jardim, gosto de pensar que a presença tranquila e destemida da cegonha “Zulmira” no meio de toda esta movida, possa ser um sinal de que os homens, novos e velhos, e os outros seres viventes, ainda vão ocupar pacificamente o mesmo espaço, então tornado num mundo muito melhor.
Até lá, teremos de manter uma esperança ativa, sabendo que se nos recusam a felicidade, teremos que conquista-la.


Bom dia Mora.